Título: Infraero prepara internacionalização
Autor: Vanessa Adachi e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Empresas & Tecnologia, p. B3

A Infraero, estatal brasileira que administra os aeroportos do país, pretende tornar-se uma empresa multinacional em 2005. O objetivo é iniciar suas atividades no exterior com a administração de um terminal de cargas em Miami e ganhar licitações para assumir a gestão de dois grandes aeroportos na América do Sul. Para permitir a internacionalização da estatal, não basta uma mudança no seu estatuto. Um projeto de lei que cria uma subsidiária da Infraero, voltada exclusivamente para operações estrangeiras, sob controle de uma holding, deverá ser enviado ao Congresso assim que os trabalhos legislativos forem retomados. Segundo um dos principais negociadores do governo para o assunto, a estrutura jurídica seria semelhante à da Petrobras. O projeto já tem a assinatura dos ministros da Defesa, Relações Exteriores e Desenvolvimento. Falta apenas a rubrica do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para quem o texto foi mandado há cerca de três meses. A equipe econômica já sinalizou que endossará o projeto, embora ainda esteja estudando seus detalhes. "Temos planos firmes para atuar na América do Sul e na África", afirma o presidente da Infraero, Carlos Wilson. Animado com essa perspectiva, ele lembra que a estatal chegou a participar de uma licitação, no ano passado, para administrar o aeroporto de Montevidéu. Entrou na disputa em parceria com uma empresa uruguaia e perdeu a concorrência para um consórcio ítalo-argentino, o mesmo que já administra o aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires. Se a licitação tivesse sido vencida pela Infraero, a estatal só poderia assumir a gestão depois de aprovado esse projeto de lei no Congresso. "Foi apenas um treino. Agora vamos entrar para o jogo", diz Wilson. A internacionalização começará por um terminal de cargas em Miami. Segundo diretores da Infraero, há espaço de sobra no aeroporto e a empresa brasileira não teria problemas em administrar um terminal caso faça investimentos e gere empregos. Passa por Miami cerca de 50% de toda a carga aérea transportada do ou para o Brasil. Em 2004, até novembro, o volume de cargas totalizou 540 mil toneladas - o equivalente a R$ 609 milhões. Para o comércio exterior, há duas vantagens em ter a Infraero na gestão de um terminal desse porte. Na área de exportação, a idéia da estatal é montar um centro de distribuição de onde as empresas brasileiras poderiam entregar os produtos armazenados. Na área de importação, a intenção é criar um posto alfandegário que permitiria à Receita Federal fazer o desembaraço de mercadorias ainda em território americano. Quando o produto importado chegasse ao Brasil, o procedimento aduaneiro já estaria completo. Outro aspecto, que é visto como não menos importante, é a facilidade de interlocução com o administrador do terminal, tanto para exportadores quanto para importadores. Além da gestão de cargas em Miami, a Infraero pretende entrar em concorrências para administrar dois grandes aeroportos da América do Sul. Os detalhes ainda não foram divulgados, mas a estatal garante que haverá oportunidades e tem competitividade para ganhar as licitações. Para Wilson - que, apesar de especulações contrárias, está fortalecido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem tem recebido elogios públicos -, a melhor alternativa será atuar em parceria com outras empresas. A Infraero pode transferir sua experiência na gestão dos aeroportos e seus parceiros podem ajudar nos investimentos em obras de expansão e modernização, acredita. Wilson enfatiza que é preciso otimizar os recursos porque muitos aeroportos brasileiros também estão em obras. Guarulhos, por exemplo, deverá ter um terceiro terminal de passageiros, com capacidade para receber um fluxo de 12 milhões de pessoas ao ano. O governo está convencido de que a internacionalização da Infraero é uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que transfere a sua experiência para outros países, ganhará acesso a novas tecnologias de gestão e melhorará seu desempenho no Brasil.