Título: Consolidação na área de software deve continuar
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Empresas & Tecnologia, p. B4

Duas grandes aquisições de empresas de software ocorridas no fim de 2004 levaram os chefões do setor a se perguntar se deverão partir para a compra ou ser comprados neste ano. Em 13 de dezembro, a Oracle, segunda maior fabricante de software do mundo, prevaleceu em sua longa disputa pela rival PeopleSoft, comprada por US$ 10,3 bilhões. Poucos dias depois, a Symantec, maior fornecedora de programas antivírus, comprou a Veritas, que vende software de armazenagem e recuperação de dados, por US$ 13,5 bilhões em ações. Esses negócios "derramaram sangue na água", diz Jonathan Schwartz, presidente da Sun Microsystems, uma grande fornecedora de equipamentos e software que poderá se encontrar no papel de caçador ou presa neste ano. O perigo, diz Schwartz, é que poderá haver "muita confusão entre atividade e progresso", à medida que as empresas embarcarem em "combinações estranhas", temendo ser deixadas para trás. A lógica da combinação da Symantec com a Veritas, por exemplo, que são empresas com negócios muito diferentes, não está evidente. No grande e complexo universo do software, que tipo de fusão faz sentido? A primeira coisa a ser percebida é que, surpreendentemente, a consolidação está ocorrendo no mercado de software para empresas, em vez de no setor de programas para o consumidor, que continua sendo dominado pela Microsoft. O mercado de software para empresas divide-se em duas categorias. A primeira é a de aplicativos, que automatizam funções como planejamento da cadeia de suprimento e folha de pagamento, e se encontram no topo da "pilha" das camadas de software que "rodam" dados corporativos. A segunda categoria, a de infra-estrutura, inclui as camadas inferiores, que vão do "middleware" - programas de ligação entre sistemas -, às várias camadas de gerenciamento e segurança para bancos de dados, programas de armazenamento e sistemas operacionais. A categoria de aplicativos está mais perto do fim do que do início da consolidação. É por isso que a fusão da Oracle - terceira maior fornecedora de aplicativos do mundo - e da PeopleSoft, a segunda maior, vai produzir um quase duopólio com a líder SAP. Uns poucos concorrentes de nicho, como Adobe e Autodesk, poderão continuar independentes, mas muitas empresas de aplicativos de médio porte, como Siebel, parecem vulneráveis. Mesmo assim não sobram muitos alvos para a tomada de controle. Isso significa que a maior parte da ação estará em software de infra-estrutura. Paul DiNardo, do banco Credit Suisse First Boston, representa o setor como uma galáxia com duas estrelas dominantes: Microsoft e IBM. Ao redor delas circulam planetas pequenos e grandes - as empresas com as quais elas têm afinidades tecnológicas. Aquelas que ficam na esfera da Microsoft trabalham principalmente com o Windows e os programas associados ao sistema operacional da empresa, enquanto as que acompanham a IBM preferem os programas de fonte aberta, como o sistema operacional Linux. Uma possibilidade é que alienígenas de outra galáxia façam uma invasão. Três possíveis invasores são a Cisco (dominante na galáxia de sistemas de rede), Intel (que domina os semicondutores) e Dell (na montagem de computadores). Esse cenário não é muito provável. A Dell sabe que seu sucesso se deve em grande parte ao foco na eficiência de manufatura, e não no software. Já a Intel luta para manter seu principal mercado. A Cisco é aquisitiva, mas seus equipamentos ficam principalmente à beira dos centros de dados corporativos, e não no coração deles. Assim, é mais provável que a consolidação ocorra dentro da galáxia do software. Um cenário possível é que as estrelas devorem os planetas em suas órbitas. Para os planetas pequenos isso já está ocorrendo - a IBM comprou várias empresas pequenas nos últimos meses. Alguns planetas de médio porte também poderão ser boas aquisições: a IBM poderia comprar a Novell, uma grande patrocinadora do Linux. Consolidação demais pode, porém, causar preocupação entre autoridades, clientes e parceiros. A Microsoft flertou com a SAP por um breve período, antes de decidir que ela seria motivo de muitos problemas. Outro cenário é que os planetas maiores podem tentar virar estrelas comprando planetas de médio porte. Esporadicamente surgem comentários de que tanto a Hewlett-Packard (HP) como a Oracle, estariam negociando com a BEA Systems, uma vizinha do Vale do Silício que concorre com a IBM na área de "middleware". A HP, porém, mal digeriu a enorme aquisição da Compaq, enquanto Larry Ellison, presidente da Oracle, já sugeriu que a integração com a PeopleSoft vai manter a empresa ocupada por algum tempo. Isso deixa um quarto cenário, com a combinação entre si de planetas de médio porte. Steven Milunovich, da Merrill Lynch, acredita que faria sentido para a Sun - dona do sistema Solaris, que é parecido com o Linux, mas compete com ele - comprar uma empresa de Linux, como Red Hat ou Novell. Já a EMC, gigante de armazenamento de dados que comprou empresas de software como Legato e Documentum, poderia buscar mais alvos. E até empresas que não têm muito em comum poderiam se unir para obter escala, como Symantec e Veritas. O que parece certo é que a consolidação na área de software vai continuar por anos. (Tradução de Mário Zamarian)