Título: Discussões sobre acordo Mercosul-UE podem ser retomadas em janeiro
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2012, Brasil, p. A2

A adesão da maioria dos empresários nacionais à reabertura das negociações de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) surpreendeu o governo e deve levar o Brasil a propor, apoiado pelo Uruguai, a retomada das discussões com os europeus no próximo encontro de autoridades dos dois blocos, em janeiro de 2013.

A consulta pública aberta em setembro pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) resultou em ofertas de abertura de mercado equivalentes a mais de 80% dos produtos comercializados pelo Brasil. A próxima reunião da Camex, ainda neste mês, deverá decidir a estratégia a ser seguida dentro do Mercosul e com os europeus.

Embora o acordo entre os dois blocos tenha merecido apenas um parágrafo protocolar no comunicado oficial de 61 parágrafos da cúpula do Mercosul, o tema chegou a ser discutido pelos presidentes. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, mostrou-se mais reservada e a delegação da Venezuela mostrou pouco interesse. O prosseguimento das negociações foi defendido por Dilma Rousseff e pelo presidente uruguaio, José Mujica, que detém, até julho, a presidência temporária do Mercosul.

Representantes do Mercosul e da União Europeia (UE) terão um encontro no fim de janeiro, às margens da reunião da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e caribenhos (Celac), em Santiago. O Brasil deve propor que a reunião com os europeus, em lugar de ministerial, como no ano passado, seja em nível de presidentes. Antes, o Mercosul deve se reunir para decidir se apresenta à UE uma proposta de data para troca de ofertas de liberalização comercial (passo essencial para fechar o acordo de livre comércio).

Não há, ainda, definição sobre o que querem os empresários argentinos ou uruguaios. No Brasil, o Itamaraty chegou a propor em setembro, na Camex, a definição das propostas a serem discutidas com os sócios do Mercosul e apresentadas aos europeus. A pedido dos ministérios da Fazenda e Desenvolvimento, decidiu-se, porém, abrir a consulta aos empresários, o que resultou em grau inesperado de interesse, semelhante ao que havia em 2004, quando houve a última tentativa de acordo.

Para surpresa no governo, o total de produtos com ofertas de liberalização pelo setor privado chegou próximo de 88% das mercadorias comercializadas pelo Brasil, em uma primeira lista - reduzida, depois, com a avaliação mais detalhada, mas ainda acima de 80%. Alguns setores, no Brasil, porém, preferiram evitar ofertas de liberalização e manter tarifas altas contra os europeus, como é o caso do setor siderúrgico, que já entra na Europa com tarifa zero.

O setor agrícola está engajado na retomada das negociações. Em novembro, dez das maiores associações do setor enviaram cartas aos ministros cobrando a retomada, aproveitando o trunfo do mercado interno brasileiro para obter concessões maiores dos europeus.

Segundo uma autoridade brasileira que acompanha a discussão, é possível que boa parte dos empresários interessados no acordo esteja procurando opções ao mercado argentino, travado por barreiras do governo local, em busca de superávit nas contas externas a qualquer custo. O protecionismo argentino é apontado por empresários brasileiros, em conversas reservadas, como o maior obstáculo à retomada das discussões.