Título: Tecnologia para virar a balança
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 13/12/2010, Economia, p. 10

Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que apenas 7% das vendas do país são de produtos de ponta, contra 42% de básicos. Para melhorar a estatística, indústrias terão que agregar valor investindo em inovação Se o Brasil quiser melhorar sua balança comercial, terá que investir pesado em inovação e em tecnologia. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que apenas 7% das exportações nacionais, no período de janeiro a setembro deste ano, foram de produtos de alta tecnologia, contra 42% de itens de baixo nível tecnológico. O pior é que em igual período de 2009 o percentual de produtos de ponta vendidos ao exterior respondia por 8,9%.

O cenário fica ainda mais nebuloso quando se sabe que desde 2005 a participação dos manufaturados nas exportações brasileiras só cai. Na época, chegou a responder por 55,1% das vendas externas. Neste ano, a fatia é de apenas 39,5%. Igual tendência também é registrada nos semimanufaturados, que saíram de uma participação de 14,2% nas exportações para 13,7% este ano. Enquanto isso, desde 2001 o peso dos básicos na balança comercial só cresce. A parcela era de 26,3% no início da década e agora é de 44,7%.

¿Mas a nossa exportação de manufaturados e semimanufaturados ainda é maior do que a de básicos¿, pondera Welber Barral, secretário de Comércio Exterior do Mdic, frisando que a fatia dos básicos é inferior à metade do que o país vende ao exterior. Para ele, o grande desafio do país não é simplesmente vender manufaturados. ¿A questão é exportar manufaturado de alto valor agregado, de grande teor tecnológico.¿ Como exemplo, Barral cita aviões e produtos de tecnologia da informação.

Entraves ¿Vendemos muito básico, mas também aviões, que ocupam hoje o terceiro lugar na pauta de exportações brasileiras¿, avalia o secretário. ¿Mesmo assim nós podemos ter muito mais competitividade na cadeia se fabricássemos no país turbinas, radares, etc. Nós precisaríamos criar e condensar a cadeia.¿ Mas há detalhes afastando investimentos do país. ¿Um dos fornecedores da Embraer não vem pro Brasil, por exemplo, por problemas tributários, de acúmulo de ICMS, além de toda a burocracia¿, conta Barral. ¿É preciso fazer uma faxina na burocracia.¿

Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) compara a situação do Brasil em termos de competitividade com a de 13 países, selecionados por suas características econômico-sociais ou por seu posicionamento no mercado internacional. África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia, Espanha, Índia, México, Polônia e Rússia são os adversários brasileiros nesta radiografia.

De oito itens estudados ¿ disponibilidade e custo da mão de obra; disponibilidade e custo de capital; infraestrutura e logística; peso dos tributos; ambiente macroeconômico; ambiente microeconômico; educação; e tecnologia e inovação ¿, o Brasil só está na média nesse último item e no ambiente microeconômico. Em todos os demais, a situação é abaixo da crítica. ¿A indústria enfrenta entraves à produtividade muito além de seus muros, como problemas com infraestrutura, política tributária e relações do trabalho¿, ressalta Fernandes, diretor executivo da CNI.

O trabalho mostra que o país está em penúltimo lugar entre 11 países em disponibilidade e custo da mão de obra. Em termos de crédito, ocupa a última colocação quando comparado à situação de todas as 14 nações selecionadas. Quando a análise é feita considerando infraestrutura e logística, o Brasil só está à frente de Colômbia e Argentina. O país volta à penúltima colocação no item peso dos tributos. E retorna ao último lugar em ambiente macroeconômico, que considera taxa de juros e câmbio, e educação.

¿Tais resultados revelam uma posição bastante desfavorável do Brasil não apenas em relação aos países desenvolvidos, mas também vis à vis outras economias emergentes¿, traz o relatório da CNI. ¿Esses resultados não surpreendem (¿) Contudo, vistos em conjunto, sugerem a amplitude e a magnitude do esforço necessário para conferir às empresas brasileiras poder de competição para assegurar uma posição significativa no mercado mundial¿, acrescenta.

Burocracia assustadora

O peso da burocracia governamental é algo que também preocupa os empresários. De acordo com o informativo Investimentos na Indústria, divulgado este mês pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o terceiro motivo mais citado pelos empresários para não alocar recursos em projetos neste ano foi dificuldades com a burocracia, queixa que ocupava a quinta colocação em 2009. ¿Todo país tem algum problema que dificulta o investimento¿, explica José Augusto Coelho Fernandes, diretor executivo da CNI. ¿Mas quando se compara o Brasil com outros países na questão tributária, esse é um ponto fora da curva em qualquer situação. O sistema é oneroso inclusive sobre as exportações.¿

Apesar desse tipo de barreira, os investimentos no Brasil crescem acima do PIB e além da taxa global, segundo Fernandes. De acordo com a sondagem da CNI, as aplicações que os empresários estão fazendo em 2010 e em 2011 visam, além de aumentar e melhorar a linha de produção atual, lançar mais produtos no mercado. É o dobro da intenção manifestada em 2009. ¿Os investimentos, inclusive em inovação, estão sendo feitos. Mas temos uma economia muito heterogênea, com empresas de ponta e outras que atuam na informalidade. Temos, portanto, um grande espaço para ganhos de produtividade por meio da aplicação de métodos, equipamentos e máquinas já disponíveis. A indústria sabe que seu sucesso depende de inovação¿, diz o diretor executivo da CNI.

¿Inovação tem se constituído cada vez mais em fator decisivo para a competitividade das empresas¿, avalia Ronaldo Mota, secretário nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Ele lembra que o direcionamento de recursos para processos de inovação tem sido crescente e enfatiza a capacidade do país de produzir conhecimento. ¿Ocupamos o 13º lugar em produção científica no mundo, o que é destacável. No entanto, somos ainda muito frágeis em transferir conhecimento ao setor produtivo¿, analisa. E, segundo ele, para o Brasil atingir o mesmo padrão dos países mais avançados, será preciso transferir esse conhecimento às empresas e à sociedade em geral. ¿É esse o desafio, nada simples, mas plenamente possível de ser cumprido se continuarmos trilhando os caminhos corretos.¿

De acordo com o MCT, o país vem avançando e os números demonstram isso. De 2005 para 2008, o número de empresas industriais inovadoras subiu de 30.377 para 38.299. A taxa de inovação evoluiu no mesmo período, de 33,4% para 38,1%. E o percentual do faturamento da indústria investido em Pesquisa e Desenvolvimento passou de 0,57% para 0,62%. ¿Mesmo assim, são números insuficientes e precisamos crescer muito mais¿, reconhece o secretário.

Interessados falam A pesquisa foi feita com 454 empresas, todas da indústria de transformação, com 35 empregados ou mais. O objetivo foi identificar a intenção de investimentos dos empresários para o próximo ano e fazer um diagnóstico de 2010. Mais de 60% realizaram seus projetos conforme planejado. E quase 80% das indústrias planejaram suas expansões para atender, principalmente, o mercado interno.