Título: Eduardo Campos deixará governo para disputar em 2014
Autor: Camarotto, Murilo; Peres, Bruno
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2012, Política, p. A6

Fortalecido pelo bom resultado de seu partido nas eleições municipais deste ano, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), já decidiu que irá se desincompatibilizar do cargo em abril de 2014 para deixar aberta a possibilidade de se candidatar a "alguma coisa". As maiores chances são para uma disputa à Presidência da República, mas concorrer ao Senado ou até mesmo à Vice-Presidência não são hipóteses totalmente descartadas.

A cautela do governador em assumir qualquer posição deve-se à miscelânea de cenários que ainda podem interferir no processo, especialmente os ligados à consistência do governo da presidente Dilma Rousseff. Ontem, por exemplo, um petista com trânsito no Palácio do Planalto revelou que setores do PT já estariam considerando a possibilidade de o partido abrir mão da cabeça de chapa na eleição presidencial de 2018. A estratégia, segundo a fonte, teria o objetivo de conter o ímpeto de Campos para 2014.

Ao pernambucano, seria oferecida a candidatura governista à sucessão de Dilma em troca do apoio à presidente em 2014. A questão, alertou o dirigente, deverá enfrentar resistência entre os petistas, o que demandaria a intermediação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa "reciclagem" do PT, na avaliação considerada por uma ala do partido, seria importante para amadurecer o projeto político partidário. "O exercício do poder desgasta qualquer partido", avaliam reservadamente alguns integrantes da legenda.

A possibilidade de "troca" com o PT ainda não havia sido apresentada a Campos. De acordo com pessoas próximas a ele, o sentimento no Recife é de que sua candidatura ao Planalto já está sendo construída e que a oficialização se dará naturalmente, sem solavancos. "Ele será carregado", definiu uma fonte no Palácio do Campo das Princesas, sede do Executivo pernambucano.

A postura mais crítica em relação ao governo federal, intensificada pelo governador após as eleições municipais, somou-se a articulações com lideranças políticas e empresariais que já vinham em curso. No apagar das luzes eleitorais, Campos foi enfático ao dizer em entrevistas que o PSB "estaria no jogo de 2014" e que era chegada a hora de o governo Dilma começar a entregar resultados práticos.

Mais recentemente, Campos criticou publicamente o veto presidencial à distribuição dos royalties do petróleo referentes aos contratos vigentes. Na semana passada, acusou o governo federal de "falta de rumo estratégico" na condução da economia. O pernambucano levantou ainda a bandeira de um novo pacto federativo, surfando a onda dos prefeitos e governadores insatisfeitos com o que consideram uma concentração de dinheiro - e de poder - na União.

"É melhor que esses alertas sejam feitos por um aliado do que caírem nas mãos da oposição", disse uma pessoa próxima a Campos, ao defender a postura do governador de Pernambuco em relação à proposta de revisão do pacto federativo. "Vivemos um problema real. É uma bandeira que tem aderência dos prefeitos que estão sofrendo. Não é uma bandeira empunhada pela simpatia da causa", completou a fonte.

Com a desincompatibilização de Campos, entra em cena o discreto vice-governador João Lyra Neto (PDT), 65, duas vezes prefeito de Caruaru, principal município do interior pernambucano. Nesse cenário, Lyra teria a prerrogativa de disputar o governo ou, pelo menos, de coordenar o processo sucessório em Pernambuco. A seu favor, pesa o fato de o PSB não dispor, pelo menos por enquanto, de um sucessor natural para Campos.

A disputa, porém, não deve ser fácil. Da atual base de apoio deve emergir a candidatura do senador Armando Monteiro Neto (PTB), que está determinado a disputar o governo nem que para isso tenha que romper com o grupo. Se Campos confirmar a candidatura a presidente, o PT tende a lançar o ex-prefeito do Recife, João Paulo Lima e Silva. No PSB, os nomes mais cotados são o do secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar, e o do ministro da Integração, Fernando Bezerra.