Título: Economista sugere ao Brasil vigiar o câmbio
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2007, Internacional, p. A13

O Brasil precisa vigiar a taxa de câmbio para não perder participação no comércio internacional por causa do real muito forte. É a recomendação de Michael Finger, economista sênior da OMC. Em 2006, a desaceleração das exportações da América do Sul foi causada pelos resultados do Brasil e dos países exportadores de petróleo da região.

Valor: Como a OMC avalia o menor ritmo de expansão das exportações do Brasil?

Finger: O Brasil ganhou fatias de mercado em alguns produtos agrícolas. Resta saber quanto estará competitivo. É preciso vigiar a taxa de câmbio para não perder fatias de mercados por causa de uma moeda sobrevalorizada. Vimos uma baixa do dólar em relação ao dólar canadense, e isso reduziu a atratividade de produtos canadenses para os americanos. No Japão, o iene desvalorizou-se em relação ao dólar e contribuiu para a dinâmica das exportações japonesas em termos reais.

Valor: Ou seja, o real forte está desestimulando as exportações?

Finger: Se a moeda é muito forte, é uma desvantagem clara para as exportações. Para o Brasil, é preciso examinar também os países vizinhos, que em alguns casos concorrem com os mesmos produtos, e a posição dos exportadores brasileiros pode ser afetada pela taxa de câmbio.

Valor: Qual a importância de o Brasil ter caído de 23º para 24º exportador mundial?

Finger: Não damos importância a isso. O Brasil perdeu um pouco sua posição no ranking das exportações de mercadorias, mas sua posição nas trocas internacionais totais cresceu ligeiramente. Em outros emergentes, como Coréia do Sul e Taiwan, mais de 90% das exportações foram manufaturados, mas os preços subiram pouco.

A evolução foi favorável, por sua vez, para os produtos básicos que o Brasil exporta. O problema é que os preços dos produtos básicos são caracterizados por flutuação, e este ano há previsões de estagnação em vários deles.

Valor: O Brasil está na contracorrente da dinâmica do comércio mundial, com sua forte dependência de produtos básicos?

Finger: Bom, esse setor no longo prazo não é promissor. Nos últimos anos, as exportações de produtos agrícolas, metais, petróleo se beneficiaram de uma situação favorável, sobretudo graças à demanda da China. Para o longo prazo, sabemos que são os produto manufaturado que têm elasticidade, são mais importantes que os produtos básicos.

Valor: Onde pode haver expansão das exportações brasileiras?

Finger: O Brasil tem de insistir nos mercados que continuam dinâmicos, como China e Índia, que têm enorme potencial. O Brasil não parece bem implantado em vários países industrializados.

O estudo da OMC está em www.wto.org