Título: PT e PMDB cortejam Josué para disputa em MG
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2012, Política, p. A7

O nome de empresário Josué Gomes da Silva, o principal executivo da Coteminas - uma das maiores grupos têxteis da América Latina --, entrou para os cálculos da política mineira. PMDB e PT passaram a cogitá-lo para o governo do Estado.

Filho do ex-vice-presidente da República no governo Lula, José de Alencar, Josué, como é chamado, tem sido cortejado a se filiar ao PMDB. A primeira conversa sobre isso teria ocorrido há cerca de um ano quando um velho amigo de seu pai, o ex-deputado federal e ex-presidente do partido em Minas, Armando Costa, o procurou.

Hoje em torno do nome do empresário já há um grupo de entusiastas no PMDB, segundo o atual presidente estadual do partido, o deputado federal Antônio Andrade.

Josué tem dito a pessoas próximas, segundo apurou o Valor, que esse movimento lhe parece uma homenagem a seu pai. Mas, quem convive com ele, diz que não o desagrada a ideia de estrear na política como candidato a governo.

Suas longas conversas com Alencar sobre política e sobre questões nacionais o teriam colocado mais próximo de partidos de centro e centro-esquerda. Alencar foi do PMDB antes de migrar para o PR. A exemplo do pai - morto em 2011 - Josué tem entre políticos e empresários a imagem de um homem de sucesso, centrado, com uma reputação irretocável, atento a questões nacionais e muito preparado.

A reportagem não conseguiu ouvi-lo ontem sobre seus planos.

"Eu ainda não tive o prazer de falar com ele, mas tenho ouvido quem defende seu nome. Nós temos hoje um pré-candidato ao governo de Minas, o senador Clésio Andrade", diz o presidente do partido no Estado. "Mas o Josué poderia enriquecer a nossa lista de nomes pré-candidatos. É um homem correto, sério, com uma postura retilínea."

Clésio Andrade, novato do PMDB, tem problemas a resolver com a Justiça. Ele é réu no processo do chamado mensalão mineiro, um suposto esquema de desvio de verba pública para financiar a campanha do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo do Estado em 1998. Ele e Azeredo serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal. O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza também é réu, mas seu caso está com a Justiça em Minas.

As pretensões de Clésio dependem, portanto, do desenrolar do processo. Ao cogitar a entrada de Josué Gomes da Silva no páreo, o partido coloca uma peça nova num jogo ainda bastante indefinido que é a sucessão do atual governador Antonio Anastasia (PSDB), em seu segundo mandato.

O PT de Minas já discute o fator Josué. O Valor ouviu dois parlamentares do partido. Um deles disse: "Um nome do estilo do Josué é muito agradável para a gente. É palatável, tem a marca do José de Alencar e é alguém com um perfil mais técnico, menos político, que é o que parece fazer sucesso atualmente."

Anastasia e o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), ambos projetam essa imagem. Ambos foram apadrinhados pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) provável candidato a presidente da República em 2014, que busca um nome para apoiar no Estado. O tucano disse que nunca conversou com Josué sobre filiação e sobre 2014, contrariando versões que surgiram nos últimos dias.

O PT já emitiu um "sinal de conforto" - nas palavras do parlamentar petista -- ao PMDB em relação ao nome do empresário, e que já teria chegado a seus ouvidos.

Um cenário é o PT abrindo mão da cabeça de chapa para o PMDB, como ocorreu em 2010 quando da campanha fracassada do peemedebista Hélio Costa. Os dois partidos mantêm conversas e têm grandes chances de caminharem juntos em 2014 em Minas, diz Antônio Andrade - sejam quais forem os nomes.

O PT chegou a discutir em 2010 o lançamento de José de Alencar ao governo de Minas. Outro parlamentar petista ouvido pela reportagem diz que Josué tem boas referências no partido e, mais do que isso, bom trânsito no governo federal.

Embora os cenários com empresário não estejam fora da realidade do PT mineiro, ainda estão longe de ser uma alternativa. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, tem a primazia da candidatura. Ele, no entanto, pode ser mais requisitado pela presidente Dilma Rousseff com a proximidade de 2014. Alguns petistas dizem que se ficar em Brasília, ganharia um ministério com mais poderes num eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Josué também tem limitações de tempo. É o superintendente geral da Coteminas, viaja com frequência aos EUA, onde o grupo tem cinco fábricas; é terceiro vice-presidente da Fiesp e vice-presidente da International Textile Manufacturers Federation, com sede na Suíça. Outra dificuldade: mora há anos em São Paulo.

Armando Costa, primeiro patrocinador da ideia de lançá-lo, diz que alguns deputados têm estado ansiosos para visitá-lo. Um encontro poderá ocorrer na semana que vem em Minas, diz o peemedebista.