Título: Linha-dura resiste a acordo com Obama e aceita abismo fiscal
Autor: Kirchgaessner, Stephanie; Politi, James
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2012, Internacional, p. A13

Um influente republicano americano que representa os parlamentares mais linha dura do partido, disse que é melhor cair de cabeça no abismo fiscal do que aprovar um acordo que mina os princípios conservadores do partido.

"Um mau acordo seria pior do que absolutamente nenhum acordo", disse Steve Scalise, um deputado de Louisiana que está prestes a se tornar presidente da comissão de estudos republicana.

Em entrevista ao "Financial Times", Scalise expôs sua oposição incondicional a qualquer aumento dos impostos, o que torna a difícil a perspectiva de um acordo, apesar da aparente disposição de alguns dirigentes políticos de ambos os lados de fazer concessões.

O presidente Barack Obama tornou o aumento de imposto para os 2% de americanos mais ricos condição inegociável de um acordo para evitar o "abismo fiscal", isto é, a adoção automática de aumento de impostos e cortes de gastos públicos a partir de janeiro de 2013.

Scalise não representa só uma meia dúzia de obstinados membros do baixo clero da Câmara dos Deputados. John Boehner, o republicano presidente da Câmara, terá de convencer muitos dos 165 membros da comissão - a maioria da bancada republicana - para garantir a aprovação de um acordo baseado num compromisso.

Boehner já fez isso antes, mas nunca no caso de um acordo visto como tão contrário à ortodoxia republicana como o que o presidente Obama quer ver firmado.

Embora alguns deputados republicanos argumentem que Obama leva vantagem na negociação e que seria melhor aprovar um acordo e seguir em frente, esse discurso não convence Scalise.

Ele rebate que os republicanos receberam prerrogativas dos eleitores, quando mantiveram a maioria na Câmara nas eleições de novembro, e que a maioria da população apoia propostas orçamentárias destinadas a cortar significativamente os gastos do governo e a reformar programas governamentais bem-vistos, como o Medicare.

"[As eleições] provaram uma coisa para nós: temos um papel. Na Câmara, somos a última linha de defesa e precisamos agir de acordo. Precisamos aguentar firme. E não há cavalaria... temos de lutar por isso todos os dias", disse ele.

Não há sinais de que Scalise ou outros conservadores estejam sendo influenciados por um dos aliados tradicionais do Partido Republicano: os executivos de empresas,que querem que ver um acordo com Obama e o fim ao impasse.

"Se um executivo pensar, "Bem, o plano do presidente pelo menos acabará com a próxima crise que nos espera", algumas dessas empresas vão repassar esses aumentos de impostos", disse Scalise.

"Se é para criarmos empregos, eles não virão das grandes empresas, virão das pequenas empresas, e são elas que sofrerão o maior impacto... só porque o presidente quer dizer "eu sacaneei alguém"."

Ontem ficou claro que as negociações para evitar o abismo fiscal continuavam enfrentando problemas, a pouco tempo do fim do prazo. A mais recente oferta de Obama baixou a magnitude dos aumentos de impostos que ele pretende implementar, de US$ 1,6 trilhão para US$ 1,4 trilhão ao longo de 10 anos, mas os republicanos ainda acham que esse total é exagerado e aceitam uma alta de arrecadação de só US$ 800 bilhões.

A Casa Branca também resgatou um referencial para a reforma tributária empresarial divulgada em fevereiro como "mel na chupeta" para os republicanos. Mas isso não foi considerado uma concessão por assessores de Boehner, porque sempre se esperou que uma reforma tributária ampla viria a incluir uma reformulação dos impostos sobre empresas e pessoas físicas.

"Hoje, o plano do presidente para evitar o abismo fiscal ainda não satisfaz os dois referenciais que coloquei no dia seguinte à eleição", disse Boehner ontem.

"O plano [do presidente] não cumpre sua promessa de produzir uma abordagem equilibrada para resolver esse problema. Seu plano trata, principalmente, de aumentos de impostos. E sequer começa a solucionar nossa crise de endividamento. O plano, na verdade, aumenta os gastos."

Chris Van Hollen, principal democrata na Comissão de Orçamento da Câmara, levantou ontem a possibilidade de os democratas ajudarem os republicanos na Câmara a ampliar os cortes de impostos da classe média, caso não se chegue a um acordo ou se não houver apoio suficiente de linhas-duras republicanos. Essa atitude poderia pelo menos ajudar a minimizar o efeito do componente tributário do abismo.

Mas questões sobre o vigor do apoio ao presidente da Câmara entre os republicanos continuam sendo a principal barreira, afirmou Van Hollen.

Com a aproximação de uma eleição para a presidência da Câmara, que acontecerá no início de janeiro, Boehner poderá parecer vulnerável se não receber apoio suficiente de membros de seu próprio partido.