Título: IBGE usará micro portátil para fazer censos do país
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2007, Empresas, p. B3

Chega de papel. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) decidiu abolir de vez seus tradicionais formulários usados na realização de censos e demais pesquisas. Na manhã da próxima segunda-feira, quando um batalhão de 82 mil colaboradores sairá às ruas para coletar informações para o Censo Agropecuário e a Contagem da População, levará consigo apenas um pequeno computador de mão, o chamado PDA.

Dos R$ 560 milhões que o IBGE investiu para a realização dessas duas pesquisas, R$ 115 milhões foram injetados nas inovações tecnológicas. Destes recursos, R$ 88 milhões foram usados apenas para comprar os 82 mil computadores de mão. A empresa que venceu o pregão eletrônico dos equipamentos foi a taiwanesa Mitac, representada no Brasil pela carioca SightGPS. "Esse é o nosso maior contrato, sem dúvida", diz o gerente comercial e um dos fundadores da empresa, Abelardo Júnior.

Cada um dos equipamentos que chegaram ao IBGE já tem o sistema operacional Windows Mobile, da Microsoft, embarcado. Paralelamente, o órgão publico tratou de reunir cerca de 30 profissionais de tecnologia para desenvolver os sistemas que serão utilizados na captura e tabulação das informações.

Com os PDAs, os recenseadores têm a missão de passar pelos municípios com até 170 mil habitantes e fazer a contagem da população. Isso significa visitar 5.435 cidades, o que envolve cerca de 30 milhões de domicílios. Já no caso do censo agropecuário, será preciso ir até os 5.564 municípios do país. "É uma verdadeira operação de guerra", diz o diretor de informática do IBGE, Luiz Fernando Mariano. "Já testamos algumas pesquisas com PDAs. Só que um projeto desse tamanho é algo inédito."

Os equipamentos foram preparados para receber tanto as informações da contagem da população - que reunirá dados básicos, como sexo, idade e migração das pessoas entre os Estados -, como as do censo agropecuário, que exigirá a passagem por 5,7 milhões de estabelecimentos do setor.

O prazo final para a coleta dos dados é 31 de julho. Para chegar a todos os locais em tão pouco tempo, o IBGE aposta em tecnologia. Como conta com apenas 515 pontos de presença em todo o país, o jeito foi criar postos temporários para coleta de dados. Em cerca de 600 locais, como escolas, associações e prefeituras, foram instalados computadores de mesa para coletar os dados dos PDAs e enviá-los ao centro de processamento do IBGE, no Rio, explica o coordenador de informática do censo demográfico, Heleno Ferreira Mansoldo. "Com isso, atingíamos mais de 1,1 mil pontos, mas vimos que ainda era pouco", diz. A saída encontrada foi instalar modens em milhares de órgãos públicos, o que somou 4,4 mil locais de coleta. O recurso possibilita que, por meio de uma conexão sem fio - conhecida como "bluetooth" - o recenseador transmita os dados do PDA por meio de uma linha telefônica 0800. Como o volume de dados trafegado é pulverizado, a conexão discada é mais do que suficiente para a transmissão, afirma Paulo Pessoa, diretor de marketing corporativo da Embratel, a empresa que venceu a licitação do serviço.

Com a tecnologia, o IBGE poderá conhecer os resultados de suas pesquisas em cerca de quatro meses, algo que, no formato tradicional, levaria até um ano para ser divulgado. Antes dos PDAs, diz Mansoldo, do IBGE, levava-se três meses para a coleta das informações. Em seguida o material tinha que ser reunido, escaneado e transformado em imagens (formato .tiff), processo que levava mais quatro meses. "Depois vinham mais seis meses para acertar os erros e ler os dados. Agora tudo isso acabou."

Para trabalhar com os computadores portáteis, cada um dos recenseadores e supervisores contratados recebeu um treinamento de aproximadamente dez dias. Os PDAs, diz Luiz Fernando Mariano, do IBGE, estão preparados para suporta poeira e quedas de forte impacto. "Fizemos até testes em cidades da Amazônia. Só não pode cair na água." Para lidar com qualquer eventualidade, o IBGE reservou um contingente de 2% de equipamentos para eventuais substituições.

Ao final do processo, o que se espera é que, mais que agilizar pesquisas, o IBGE passe a oferecer números mais precisos. A Contagem da População, por exemplo, vai gerar dados atualizados para que a União faça a distribuição do Fundo de Participação dos Municípios.

O ineditismo do projeto, conta Mariano, chegou a chamar a atenção de empresários como o dono da Microsoft, Bill Gates, que "quis saber o que estava acontecendo no país que fica abaixo da linha do Equador." O diretor de marketing e negócios da Microsoft Brasil, Luiz Marcelo Moncau, confirma o interesse. De olho no projeto, a fabricante do Windows - que já participa de projetos reconhecidos lá fora - como as urnas eletrônicas e o Imposto de Renda - mandou seus técnicos dos EUA para entender o novo projeto brasileiro. "É uma situação curiosa. Desde 2004 os americanos testam coisas parecidas, só que para usarem apenas em 2010", diz o coordenador de informática, Luiz Fernando Mariano. "Estamos saindo na frente."