Título: Entrada de Eduardo Campos na campanha acirra rivalidades
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2013, Política, p. A5

A efetiva entrada do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, colocou ontem mais uma vez em lados opostos os candidatos a presidente da Câmara dos Deputados, Júlio Delgado (PSB-MG) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Enquanto apoiadores do mineiro garantem que Campos entrou no jogo, o pemedebista, que ontem esteve em Recife com ele, saiu do encontro dizendo ter tido garantias de que não haverá qualquer envolvimento.

A divergência, porém, decorre da intensidade do envolvimento de Campos. Um dos grandes vitoriosos das últimas eleições, Campos claramente não gosta de correr riscos nas disputas que entra. Só se posiciona, como se diz em Pernambuco, para ganhar. E avalia que há riscos de derrota do seu correligionário na eleição do dia 4 de fevereiro. Além disso, não quer nacionalizar o embate tampouco que o governo o associe a um enfrentamento antecipado do que pode ocorrer em 2014. Isso porque todas as sinalizações do Palácio do Planalto são de apoio à candidatura Alves.

Por outro lado, Eduardo Campos não quer que a bancada que desde o ano passado patrocina a indicação de Delgado se sinta isolada e sem apoio do presidente do partido. A fatura, afinal, pode ser cobrada no futuro. E já que o jogo está jogado, quer aproveitar para mandar seus recados e adequar a candidatura a seu pensamento. Mas tudo com discrição e moderação. Na sexta-feira, antes de dar a primeira - e tardia - manifestação de apoio à candidatura de Delgado, traçou com o correligionário alguns aspectos de como deveria ocorrer a reta final da campanha.

Um deles, trazer ao debate a pauta econômica, para "destravar a economia" e ajudar a presidente Dilma Rousseff a "ganhar 2013". Trata-se da mesma pauta que ele vem debatendo desde o final das eleições municipais de outubro.

O outro aspecto envolve um acirramento do discurso ético contra o PMDB, já que tanto Alves na Câmara como Renan Calheiros (AL) no Senado são alvos de denúncias de irregularidades (RN). Campos não deseja ser associado diretamente a uma eventual vitória de ambos, por isso aconselhou Delgado a marcar posição nesse tema.

Não foi por coincidência, portanto, que desde sexta-feira Delgado passou a falar mais sobre economia e a ampliar os ataques a Alves, na linha de que o adversário, uma vez eleito, terá passar "o mandato se defendendo" e não conseguirá resgatar a "dignidade perdida" do Legislativo.

Um terceiro aspecto sobre o qual Campos resolveu avançar foi colocar seus contatos políticos em campo e sinalizar ao partido que se movimenta em favor do correligionário. Conversou, por exemplo, com o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), sobre um eventual apoio tucano a Delgado. E prometeu conversar com alguns governadores, como Raimundo Colombo, de Santa Catarina, muito influente no PSD e na bancada federal de 51 deputados, a terceira maior da Câmara.

Tudo, porém, sem aparecer muito, utilizando-se de contatos indiretos ou muito próximos que possam de alguma maneira ajudar o seu partido a não fazer feio na eleição do dia 4. É o caso dos dois exemplos citados. Guerra é um conterrâneo e muito próximo do governador há muito tempo. Colombo não despacha no Congresso, o que facilita qualquer demonstração de envolvimento não muito ostensivo.

Tudo muito diferente de quando colocou o time em campo para eleger a mãe, a então deputada Ana Arraes (PSB-PE), ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Na época, montou um quartel-general em Brasília e entrou fundo na eleição, derrotando gente de peso como o agora ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Delgado não terá tamanho privilégio nem conseguirá fazer de sua campanha uma campanha de Eduardo Campos, algo descartado no Palácio Campo das Princesas, sede do governo pernambucano. Mas Delgado também não estará sozinho. Terá a participação do governador de Pernambuco proporcional ao interesse político dele na disputa.

No PSDB, a conversa de Campos com Guerra surtiu um efeito ainda não mensurável. Sérgio Guerra disse estar contrariado com o apoio da bancada a Alves em face das denúncias que o atingem. Mas a posição tucana oficial ainda permanece inalterada. O partido deve entrar na próxima semana confirmando o apoio a Alves mas o condicionará a uma definição sobre a quem cabe o posto de primeiro-secretário da Câmara, aos tucanos ou a PSD. Prometem, assim, levar essa ameaça até o último instante, como forma de Alves tomar uma posição sobre isso.