Título: China fixa meta para criar conglomerados
Autor: Yap , Chuin-Wei
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2013, Internacional, p. A11

O ministro da Indústria da China fixou ontem uma meta agressiva de criação de gigantes mundiais no setor eletrônico nos próximos dois anos. O objetivo seria alcançado por meio de fusões e alianças. Ele reafirmou ainda o interesse de longa data, de empresas chinesas, por aquisições externas.

A meta para o setor de produtos eletrônicos é parte de um plano mais amplo de consolidação de setores fragmentados da economia chinesa, como o siderúrgico, naval, automobilístico, de cimento e de alumínio. O excesso de capacidade da indústria pesada foi responsabilizado por amplificar a significativa desaceleração do crescimento observada nos últimos dois anos.

O comunicado sobre a política do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação ocorre num momento em que uma transição de liderança eleva a expectativa de um novo impulso nas mudanças econômicas. Nos últimos anos, os principais órgãos econômicos do país bateram na tecla de obrigar as empresas a se expandir.

O projeto para o setor de produtos eletrônicos indica o desejo de Pequim de desenvolver empresas de marcas conhecidas e maior produtividade, e se afastar de uma economia centrada na fabricação de produtos eletrônicos de baixo custo. O ministério disse que quer contar com cinco a oito empresas de produtos eletrônicos com mais de 100 bilhões de yuans (US$ 16,07 bilhões) em vendas até 2015.

Em 2011, só duas empresas chinesas alcançavam essa marca: a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei Technologies e a fabricante de PCs Lenovo. Outros fabricantes de produtos eletrônicos, como a ZTE e a TCL, tiveram dificuldades de superar os efeitos da frágil demanda mundial e das barreiras tecnológicas.

A desconfiança em relação às empresas chinesas também foi um problema. A Huawei e a ZTE sofreram um revés nos EUA em outubro, quando relatório do Congresso americano considerou que elas representavam uma ameaça potencial à segurança nacional. O documento atribuía a decisão ao temor de que seus equipamentos pudessem ser usados para espionar os americanos. A Huawei e a ZTE desmentiram a suposição.

A ZTE, que disse ter registrado prejuízo de 2,5 bilhões a 2,9 bilhões de yuans em 2012, firmou recentemente um acordo de financiamento de US$ 20 bilhões com o China Development Bank, chamando a atenção para as grandes ambições internacionais acalentadas pelo governo para a empresa. Em outra operação, a fabricante de eletrodomésticos Haier, uma das maiores empresas chinesas de produtos eletrônicos, adquiriu a neo-zelandesa Fisher & Paykel Appliances por mais de US$ 700 milhões, para garantir mais acesso a tecnologias fundamentais e uma maior presença na Austrália e na Europa.

Em outros setores decisivos destacados no passado pelo governo, como o de semicondutores, as empresas chinesas ainda estão bem atrás das concorrentes externas. A Semiconductor Manufacturing International, a maior fabricante chinesa de chips por capacidade de produção, continua muito menor e detém uma tecnologia de produção menos avançada que concorrentes como a Taiwan Semiconductor Manufacturing.

Pequim acaba sendo por vezes enrolada pela ampla e distribuída economia do país. Na siderurgia, analistas dizem que o esforço do governo de conter a criação de nova capacidade de produção é minado por empresas que subdeclaram o seu nível de produção. Em certos anos, o setor informou produção até 50 milhões de toneladas menor do que a real, segundo a consultoria MEPS International. O país produziu 717 milhões de toneladas de aço no ano passado.

Na nota de ontem, o ministério disse que as dez maiores siderúrgicas do país terão de responder por cerca de 60% da produção total de aço até 2015 e formar de três a cinco empresas competitivas em âmbito mundial. O governo disse no passado visar um nível de concentração de 70% no setor até 2020.

No caso das terras-raras (metais usados na produção de alta tecnologia, em produtos como iPhones e sistemas de mísseis) o grande número de mineradoras contribuiu para uma deflação que reduziu os preços desses metais em quase 70% no ano passado, apesar de a China controlar cerca de 95% da produção mundial. O ministério disse que reduzirá drasticamente o número dessas mineradoras.

No setor automotivo, as dez maiores fabricantes terão de responder por 90% da produção do setor até 2015. O ministério informou ainda que as dez maiores fundições de alumínio deverão gerar 90% da produção até 2015. Já no setor naval, os dez maiores estaleiros terão de cobrir 70% ou mais da produção.