Título: Governo planeja reduzir superávit com países da região
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Brasil, p. A3

Para reduzir o saldo no comércio do Brasil com os países do continente e estimular as relações comerciais com esses vizinhos, o governo adotará um programa agressivo de estímulo a importações brasileiras de fornecedores sul-americanos, segundo determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. Durante a visita de Lula ao Chile, Miguel Jorge decidiu, em conversa com o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, aumentar neste ano o número de missões comerciais para buscar fornecedores na vizinhança. Em 2006, o Brasil fez um superávit de US$ 10,6 bilhões com os países da América do Sul - quase um quarto do superávit total do ano passado.

" Queremos incluir nessas missões as grandes cadeias de varejo, e buscar principalmente importação de alimentos " , disse, ao Valor, Marco Aurélio Garcia. " Não há por quê não importarmos mais laticínios do Uruguai, por exemplo " .

O aumento das missões comerciais de importação deverá complementar o programa já existente no Ministério das Relações Exteriores, chamado Substituição Competitiva de Importações, pelo qual o governo tem levado ao Brasil missões empresariais de exportadores do Uruguai, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Peru e Chile. Grupos de trabalho orientam as empresas locais sobre as oportunidades de vendas ao mercado brasileiro, e estimulam as empresas do Brasil a buscarem, na vizinhança, produtos hoje fornecidos por países de fora da região.

Alguns desses países produzem mercadorias que o Brasil importa de outros mercados por alto preço, como alcachofras e aspargos, exemplifica Garcia. Para retirar obstáculos à importação de alimentos, Lula cobrará da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) maior agilidade nos processos, e as missões comerciais deverão dar ajuda técnica aos países para enquadrarem seus produtos na legislação brasileira.

Garcia, como o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, lembra que não se pretende repetir o caso da água Salus, uruguaia, produzida pela AmBev, que quase se tornou um atrito diplomático com o governo Tabaré Vazques, pela demora de um ano e meio na liberação de entrada do produto no Brasil.

O aumento das importações traz benefícios também aos exportadores brasileiros para esses países, segundo argumenta o Itamaraty, por aumentar o fluxo de mercadoria dos vizinhos ao Brasil e ajudar a reduzir o custo dos fretes. Lula aponta, como um dos motivos para o programa, os repetidos saldos comerciais nas relações com os países sul-americanos (a Bolívia, devido às exportações de gás, é o único país superavitário em sua relação de trocas comerciais com o Brasil).

O governo, segundo Garcia, quer estimular também a compra, em países pobres da região, como o Equador, de produtos hoje vendidos aos Estados Unidos, com tarifas de importação reduzida ou eliminada, como parte de um programa de estímulo aos países andinos. O programa, conhecido pela sigla ATPDEA, foi trocado por acordos de livre comércio, na Colômbia e no Peru, e será extinto neste ano. Lula, em seu encontro com o presidente dos EUA, George Bush, pediu que o executivo americano se empenhasse para aprovar, no Congresso, a extensão do ATPDEA para Bolívia e Equador.

O Itamaraty já organizou uma inédita lista de importadores brasileiros, para orientar os empresários da região, e elabora um guia em espanhol com as informações necessárias para entrada no mercado brasileiro. As missões do programa de Substituição Competitiva de Importações também incluem contatos com autoridades de normas técnicas e vigilância sanitária, para minimizar as barreiras não tarifárias ao comércio na região.