Título: Bolsista está orgulhoso por estudar em escola arrumada
Autor: Máximo , Luciano
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2013, Brasil, p. A2

Márcio Rodrigues da Silva Júnior, morador de Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo, é um dos quase 20 mil beneficiários do Brasil sem Miséria no Estado de São Paulo que ganharam do governo federal vaga em um curso técnico de curta duração, ação que faz parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Desde o começo de novembro do ano passado, todos os dias ele levanta às 4 horas da madrugada para pegar o primeiro trem, pouco antes das 5 horas, em direção ao centro da capital paulista. Depois de duas baldeações e de chacoalhar por quase três horas em vagões já lotados, o garoto de 19 anos chega ao Senai do Ipiranga em tempo para as aulas, práticas e teóricas, do curso de mecânica, manutenção e instalação de aparelhos de climatização e refrigeração.

Na oficina, em meio a dezenas de variados tipos de refrigeradores e cabines frigoríficas com tubulações e motores expostos para serem "dissecados" pelos alunos, Márcio fala com um sorriso estampado no rosto sobre o orgulho de estar ali, numa "escola arrumada e com professores legais". "O colégio lá em Franco da Rocha é muito bagunçado e a galera não se interessa. Aqui a aula é boa, todo mundo estuda. Tem que estudar porque é difícil", conta. Ele também faz questão de contar que Luiz Inácio Lula da Silva estudou no mesmo Senai, mas prefere a presidente Dilma Rousseff. "Ele [Lula] fala muito."

O curso de três meses do Pronatec acaba na próxima semana e Márcio planeja seguir se capacitando. Diante do complicado universo de cálculos de precisão dos fluídos e gases usados na refrigeração de ambientes e produtos, ele sabe que o que aprendeu pode ser pouco para a exigência do mercado. Mas trata-se de um primeiro passo importante: "Já estou vendo as vagas que têm no mural aqui do Senai. Tem muito trabalho para mexer com refrigeração e ar condicionado. Acho que vou conseguir alguma coisa como auxiliar", espera o garoto.

Com o futuro salário, Márcio quer ajudar a comprar "as coisas de casa" e fazer um curso técnico mais longo também na área de climatização. Aluno do segundo ano do ensino médio, ele trabalhou como empacotador de supermercado, mas está desempregado há um ano e meio e quer voltar ao mercado para "melhorar as condições de vida" da mãe, que é faxineira, e do irmão mais novo, de 15 anos. Se sobrar alguma coisa, ele já pensa em economizar para comprar uma casa e casar com a atual namorada, que conhece desde a infância.

Os professores do Senai Ipiranga que conversaram com a reportagem disseram que o mercado de trabalho para técnicos e especialistas em refrigeração e climatização está bastante agitado. "Falta gente com competência tanto para o manuseio dos aparelhos como para a parte de manuteção. Quem faz um curso e se dedica só não consegue emprego se não quiser", contou um professor, pedindo para não ser identificado. (LM)