Título: No Chile, Lula lembra Balbina e defende cuidado ambiental
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Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Brasil, p. A3

O maior problema para a construção de hidrelétricas no Brasil não é ambiental, mas "legal", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao comentar as restrições ecológicas a grandes obras, como as usinas de geração planejadas para o rio Madeira. Lula disse acreditar que a maior dificuldade para as obras de geração no país está na falta de regras que disciplinem a competência das agências fiscalizadoras do meio ambiente nos governos federal, estadual e municipal nos licenciamentos. Ele lembrou que incluiu proposta de regulamentação dessa questão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

"É melhor demorar mais um pouco e fazer as coisas bem feitas do que fazer um monumento à insanidade como foi (a hidrelétrica paraense de ) Balbina", comentou. "O mundo hoje exige de nós maior preocupação e responsabilidade ambiental", disse, após reunião com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, com quem discutiu medidas para ampliar a integração energética entre os países da região. Lula defendeu obras de interligação das redes de transmissão sul-americanas, para permitir melhor aproveitamento dos regimes climáticos na região e permitir a troca de energia excedente.

"Nesses quatro anos de mandato quero fazer tudo aquilo que fiquei frustrado por não fazer nos primeiros quatro anos", afirmou o presidente. "Farei mais que fiz no primeiro mandato para consolidar a integração, prometeu à presidente Bachelet, com quem decidiu uma "coordenação mais estreita" para impulsionar a integração no continente, segundo anunciou.

A soma do potencial hidrelétrico na América do Sul é equivalente à energia produzida por quase 1,4 trilhão de barris de petróleo, disse Lula. "Equivale às reservas de petróleo mundial, e é mais barato", comparou o presidente.

Mais tarde, em visita à FAO, o braço da Organização das Nações Unidas para alimentação, Lula preferiu ironizar quando lhe perguntaram se as restrições ambientais não poderiam inviabilizar as hidrelétricas do rio Madeira, projeto prioritário do governo. "E se o Corinthians for para a Copa do Mundo?", gracejou. Segundo um assessor próximo do presidente, o governo espera que o Ibama reconheça que todas as obras têm custos para o meio ambiente, e leve em conta a importância de algumas opções energéticas, como as hidrelétricas prioritárias, na concessão das licenças ambientais.

Nos pronunciamentos após o encontro com Bachelet, Lula fez questão de enfatizar o "exemplo" do Chile, reconhecidamente o país de maior sucesso econômico na região, com a maior abertura da economia ao exterior. Lula fez questão, porém, de afirmar que a aproximação entre os dois governos não deve ser entendida como um "contraponto" à atuação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na região. "É importante compreender o que era a Venezuela antes de Chávez e o que é depois", defendeu Lula, lembrando os grandes investimentos entre os dois países.

"O problema que temos não é Chávez, Michelle, Lula, Nicanor ou Evo Morales; é o de recuperar décadas em que os jovens nos nossos países foram submetidos à fome e à falta de educação", disse. "Não acredito na existência do chavismo, mas de uma consciência sul-americana", acrescentou.

A aproximação dos dois países na área energética foi um dos principais desdobramentos do encontro entre Lula e Bachelet. A Petrobras e a estatal chilena Enap firmaram acordo de cooperação para exploração de reservas de gás e petróleo, projetos petroquímicos e biocombustível, que inclui o acompanhamento do programa chileno para combustível vegetal e apoio tecnológico brasileiro.

Lula, nos discursos durante a visita ao Chile, defendeu o biocombustível (etanol e biodiesel), contra as críticas (levantadas por aliados como o boliviano Evo Morales e o cubano Fidel Castro) de que esses produtos ameaçam a produção mundial de alimentos. O biodiesel pode ser desenvolvido em acordo entre empresas como a Petrobras e a venezuelana PDVSA, e será uma alternativa de geração de emprego e renda para os países pobres da África, defendeu o presidente.

Os dois governos assinaram nove acordos, também em áreas como atendimento previdenciário e educação - Lula defendeu que um próximo encontro de presidentes da América do Sul discuta e "conclua" uma proposta de criação de universidades da América latina, para alunos pobres do continente. Bachelet enfatizou a aliança política dos dois países nas instituições multilaterais, onde o Chile é um dos parceiros mais fiéis do Brasil, a quem apóia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no pleito de um assento permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Lula aproveitou para criticar duramente os "países ricos" pelas barreiras aos produtos agrícolas dos países em desenvolvimento, e alertou: sem um acordo de liberalização de comércio na OMC, "os líderes políticos desse momento passarão para a história como líderes fracassados". (SL)