Título: Outros países exportadores reclamaram das sobretaxas e tiveram sucesso
Autor: Moreira, Assis e Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Brasil, p. A4

Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarões (ABCC), diz que participou de uma reunião com advogados para discutir pagamentos aos americanos. "Mas depois caímos fora, porque era acordo individual de empresa", conta. Diz também que não partiu dele acionar o governo, para reclamar na reunião bilateral em Genebra. "Foi o Itamaraty que me procurou".

A prática dos produtores americanos começa a ser contestada nos EUA. O "Wall Street Journal" cita Dan Ikenson, do Cato Institute, instituto de pesquisa em Washington, apontando "algo inadequado sobre a indústria doméstica extorquindo amplas somas de dinheiro de produtores estrangeiros de camarões". Wally Stevens, diretor da Associação Americana de Distribuidores de Frutos do Mar, usa o mesmo termo: "é extorsão".

O diretor-executivo da Southern Shrimp Alliance, John Williams, retrucou enfurecido ao jornal americano que se os produtores estrangeiros não tivessem violado as leis comerciais, vendendo barato demais, "não estaríamos nessa situação hoje". Contou também que uma parte do dinheiro era para pagar a fatura dos advogados, que chegaria a mais de US$ 3 milhões. Williams não retornou telefonemas, ontem.

O governo brasileiro vai reagir hoje em bilateral, alguns dias depois de Washington ter contestado o acordo entre o Brasil e a China limitando exportações têxteis chinesas para o Brasil. Brasília alegou que se tratava de "acordo entre privados", e portanto não há nada que impeça isso pelas regras globais.

É exatamente o que também ouvirá dos americanos. No "Wall Street Journal", o subsecretário assistente de comércio para antidumping, Stephen Clayes, disse que o governo não fazia parte dos acordos, sendo "puramente privado".

As sobretaxas antidumping desmoronaram a exportação brasileira. Caiu de 21,700 toneladas em 2003 para 588 no ano passado. Produtores americanos dizem que o Brasil distorce os preços. Itamar retruca que quem faz o preço são os intermediários americanos.

Outros países que exportam camarão, como Equador, Índia e Tailândia, entraram com ações na OMC contra as sobretaxas aplicadas pelos Estados Unidos contra seu camarão e tiveram sucesso. O Equador conseguiu eliminar a tarifa adicional. O Brasil tem participado como terceira parte nas disputas, mas nunca entrou com uma ação porque a indústria não quis. A maioria das empresas brasileiras são pequenas e pouco organizadas e acham que uma disputa na OMC seria cara e longa demais.

"Para que gastar dinheiro, se vamos repetir o que aconteceu no caso do algodão, em que o Brasil ganhou mas nunca teve coragem de agir contra os americanos?", reagiu Itamar Rocha, da ABCC. (AM e RB)