Título: Setor têxtil da UE teme prejuízo com alta de tarifa no Brasil
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Brasil, p. A4

A Euratex, entidade que representa a indústria têxtil da Europa, informou que vai acionar a Comissão Européia para evitar prejuízos com a alta da tarifa de importação de têxteis anunciada pelo Brasil. William Lakin, secretário-geral da Euratex, disse ao Valor que a indústria européia "não quer ser vitima de uma medida adotada por causa de outro país", numa referência ao avanço da China no mercado brasileiro.

Ocorre que excluir um parceiro da alta tarifária significa discriminar os outros e pode trazer mais problemas para o Mercosul. Lakin, porem, acha que Bruxelas deve buscar soluções com os brasileiros. Exemplificou que, nos anos 90, a Coréia do Sul elevou a tarifa de importação de 9% para 38% e, após pressões de Bruxelas, a taxa declinou para 18%.

A indústria européia é um dos maiores importadores mundiais de têxteis e confecções, totalizando 81 bilhões de euros no ano passado, dos quais 23,8 bilhões de euros originárias da China. Mas a UE é também o segundo maior exportador mundial de têxteis e o terceiro de confecções, com 38,7 bilhões de euros em 2006. Os grandes mercados sao os EUA, Japão e agora a Rússia.

A Euratex ainda avalia o impacto que a alta de tarifa pode ter nas suas vendas para o Mercosul. No ano passado, as exportações para o Brasil subiram 12,1%, alcançando 219 milhões de euros. Em contrapartida, as exportações têxteis brasileiras para a UE caíram 24,7%, totalizando 184 milhões de euros, certamente por causa do cambio.

Os europeus insistem que o problema com alta de importações no Brasil é causado pelos chineses, e não por sua indústria. E não querem perder fatias de mercado, quando o país está em pleno desenvolvimento econômico.

O Brasil e a UE fizeram há alguns anos um acordo bilateral, pelo qual Bruxelas aumentou cotas de têxteis para o país e, em contrapartida, o Brasil eliminou certas barreiras não-tarifárias. A Euratex lamenta que um acordo de livre comércio UE-Mercosul não tenha sido concluído, porque isso daria acesso preferencial aos exportadores nos dois blocos.

Em contrapartida, os produtores europeus pedem à Comissão Européia para não deixa-los expostos aos produtos baratos da China. A preocupação é grande, porque o Brasil, Africa do Sul e EUA fizeram acordos com a China, limitando a entrada dos produtos chineses até o final de 2008.

Já a UE fez o mesmo tipo de acordo, mas que termina em dezembro próximo, um ano antes dos outros. O temor é que a China acabe jogando seu excesso de mercadorias na Europa. Desde que Bruxelas freou a entrada de têxteis chineses, os preços de mercadorias procedentes da China aumentaram 7% no mercado europeu. Até o ano passado, os preços caíam sempre.

Em Genebra, o Escritório Internacional de Têxteis e Vestuários (conhecido pela sigla inglesa ITCB), que reúne 23 países exportadores, incluindo o Brasil, evitou comentar a alta de tarifa no Brasil. O ITCB, que faz o lobby a favor da abertura do mercado mundial de têxteis, constata que outros países em desenvolvimento aumentaram a proteção de seus mercados, caso da África do Sul, Peru e Colômbia.