Título: Momento é delicado para Paulo Lacerda sair da PF rumo ao Ibama
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Brasil, p. A8

A ida do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para o comando do Ibama depende de um acerto entre os ministros da Justiça, Tarso Genro, e do Meio Ambiente, Marina Silva. É certo que pelo menos até o final dos jogos panamericanos, no Rio de Janeiro, Lacerda não deixa o comando da PF.

Tarso quer que Lacerda continue na PF, pois há duas megaoperações em curso (Furacão e Thêmis) e seria um risco trocar o comando da instituição neste momento. Essas duas operações resultaram na prisão de juízes e procuradores e na deflagração de um esquema de venda de liminares para beneficiar casas de bingos no país. Elas levaram Lacerda a refletir sobre a possibilidade de ficar até o fim do ano no comando da PF. Ele sinalizou ao ministro da Justiça que estaria disposto a permanecer no cargo, inclusive para auxiliar na transição para um novo diretor-geral. Lacerda se sente responsável pela transformação da instituição e gostaria de consolidar este trabalho de megaoperações e ajustar a transição na PF.

Por outro lado, o diretor-geral da PF tem predileção pela área de defesa do meio ambiente e possui uma relação de admiração e amizade com Marina Silva. Quando assumiu a PF, em 2003, Lacerda elegeu três prioridades: limpar a casa (tirar os corruptos da instituição), criar uma delegacia especializada em crimes ambientais e combater o tráfico de armas. As três metas foram, segundo ele, cumpridas: a primeira com dezenas de exonerações de delegados e agentes da PF em 2003, a segunda com a criação da Delegacia de Crimes Ambientais e a terceira com a realização de operações de combate à venda e à entrada ilegal de armas no país.

Lacerda se aproximou muito de Marina durante a Operação Curupira - a maior da história da PF. Durante seis meses, o diretor-geral da PF e a ministra do Meio Ambiente trocaram informações sobre quadrilhas que atuavam no desmatamento. Em 2 de junho de 2005, mais de 90 pessoas foram presas pelo desmatamento e exploração ilegal de florestas no Mato Grosso e na Amazônia. Dessas, quase 50 eram funcionários do Ibama e pouco mais de 40 eram empresários.

A operação foi considerada um sucesso e a sua divulgação renovou as forças de Marina para continuar à frente do Ministério. Dias antes de a PF mobilizar 480 policiais - quase 5% do efetivo total da corporação - para desmontar as quadrilhas no Mato grosso e na Amazônia, Marina Silva fora apontada como incapaz para resolver o problema devido a um suposto recorde no desmatamento nessas regiões.

A divulgação da operação serviu como resposta da ministra. Marina mostrou que o governo conseguiu identificar 431 empresas fantasmas no comércio ilegal de madeira. Ao todo, foram apreendidos 1,98 milhões de metros cúbicos de madeira, quantia suficiente para enfileirar 76 mil caminhões ligando o Rio a Brasília. Esses resultados foram possíveis por causa da cooperação de Paulo Lacerda com o Ministério do Meio Ambiente.

Lacerda foi cogitado para assumir o INSS, mas não recebeu qualquer convite para o cargo. Ele soube dessa possibilidade pela imprensa. No caso do Ibama, foi procurado e gostou da idéia. Mas ele depende de um acerto entre os ministros para definir seu destino.