Título: Chinaglia propõe reajuste de 26,5%
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Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Política, p. A12

Um dia depois de ter concluído a votação do pacote com nove medidas provisórias do PAC, a Câmara entrou em cheio na chamada agenda negativa: aumento de salários, processos no Conselho de Ética e conflitos com a imprensa. O polêmico projeto de reajuste dos deputados foi apresentado aos líderes dos partidos na manhã de ontem pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). A proposta é aumentar os vencimentos em 26,5%, de R$ 12,8 mil para R$ 16,2 mil. A novidade é que o reajuste é retroativo a 1º de abril.

O líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE), disse que o projeto será votado em momento oportuno, assim que a pauta de votações estiver desobstruída. Isso deve acontecer na próxima semana: "O momento não é o mais adequado para votarmos esse projeto", alertou o líder do governo. O índice do reajuste, de 26,49%, incidirá também sobre os vencimentos do presidente da República, que iriam para pouco mais de R$ 11 mil, e dos ministros.

O reajuste dos deputados vem sendo adiado desde dezembro do ano passado, quando o ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo patrocinou uma proposta de equiparação com os ministros do Supremo Tribunal Federal (R$ 21 mil), frustrada pela repercussão negativa.

Depois de formalizar a nova proposta, Chinaglia anunciou que a Câmara vai criar "uma espécie de Advocacia Geral" para defender judicialmente os deputados de críticas consideradas ofensivas, feitas por meio da imprensa. Ele ameaçou processar o comentarista Arnaldo Jabor, da TV Globo e da CBN. Terça-feira, na rádio, Jabor disse que "todos sabemos que os nossos queridos deputados têm direito de receber de volta o dinheiro gasto com gasolina, seja indo para seus redutos eleitorais ou indo para o hotel com suas amantes ou seus amantes. A Câmara, ou melhor, você e eu, pagamos a gasolina, desde que eles apresentem a nota fiscal (...) Será que o senhor Arlindo Chinaglia não vê isso ou só continua pensando no bem do PT? Quando é que vão prender esses canalhas?".

"Esse ataque injusto é inadmissível. Não queremos compaixão com o erro, mas respeito à democracia", disse Chinaglia sobre o comentário radiofônico, sendo aplaudido por todos os deputados que estavam no plenário. "Não queremos passar a idéia de que somos igualmente puros, mas temos legitimidade para representar o povo, e isso precisa ser respeitado", acrescentou, dizendo que pretende combater os excessos da imprensa. Mais tarde, o presidente da Câmara disse que pode reavaliar sua decisão se o comentarista voltar atrás e esclarecer melhor suas declarações.