Título: Montadoras iniciam ano mais otimistas
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Empresas & Tecnologia, p. B5

A capacidade de crescimento do setor automotivo não esgotou em 2004, ano da produção recorde de 2,205 milhões de veículos, puxada, sobretudo, pelas exportações. O inesperado impulso obtido nos mercados externo e interno nos 30 últimos dias do ano deu o sinal que as montadoras esperavam para confirmar planos de aumento na produção em 2005. A Honda já começou a planejar o terceiro turno de produção na fábrica de automóveis em Sumaré (SP). Com o segundo turno, iniciado em 2004, o ritmo diário já havia subido de 248 para 270 carros. "Com o terceiro turno, queremos chegar a 300 unidades em meados de 2005", afirma o diretor executivo da montadora, Kazuo Nozawa. Foi a partir do resultado de dezembro, que a direção da montadora japonesa se entusiasmou a fazer novos planos de investimento. "Dezembro superou todas as expectativas", comemorou Nozawa ao contabilizar a venda de 50.692 no mercado brasileiro, em 2004, 57,7% mais do que em 2003. As vendas domésticas e as exportações no decorrer do mês de dezembro surpreenderam os próprios fabricantes, superou as previsões feitas por eles menos de um mês antes e levou a indústria a elevar a expectativa de crescimento no mercado brasileiro em 2005. Bem como com a receita de exportações neste ano. Se até novembro, os fabricantes de veículos vinham colecionando recordes apenas na produção, por conta das exportações, em dezembro despontou um recorde no mercado doméstico. Há sete anos não se vendia tão bem em um mês. A venda interna de 178 mil veículos só perdeu para outubro de 1997, quando foram comercializadas no país 189,1 mil unidades. O resultado do último mês do ano foi 28,24% maior que o de novembro e ficou 5,38% acima do mesmo mês em 2003. Isso puxou o crescimento das vendas totais do ano - 1,579 milhão de veículos - para 10,5%. Um mês antes as montadoras previam um mercado total 7,8% maior que o de 2003. Com isso, mudou também a previsão para 2005. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) conta agora com a venda de 1,64 milhão de veículos no mercado brasileiro em 2005. Isso indica um crescimento de 4%. A previsão de um crescimento menor do que em 2004 de um lado se sustenta no fato de o cálculo partir de uma base maior, conforme se confirma nas próprias fábricas. "Nos dois últimos anos atingimos crescimento anual em torno de 60% e em 2005 pretendemos avançar 20%; mas nossa base ampliou-se", diz Nozawa, da Honda. O economista Richard Jean Marie Dubois, especialista em indústria automotiva da Trevisan/Tamer & Associados, lembra, ainda, que há um ano toda a indústria operava sem perspectivas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). "Neste ano, estamos partindo de uma expectativa de 5%", completa. Os executivos do setor há meses percebem a melhor disposição do brasileiro em adquirir bens mais caros, que dependem de financiamento na maior parte dos casos. No entanto, parte da euforia do mercado interno no último mês do ano foi forçada por promoções que visaram pontos na participação das marcas. A General Motors, que chegou ao primeiro lugar pela primeira vez na história do setor no Brasil, conseguiu com que seus compradores licenciassem 44.556 veículos só em dezembro. Nos meses anteriores a mesma empresa obteve médias mensais de 30 mil unidades. As vendas em dezembro fizeram o nível de estoques baixar de 33 dias, em novembro, para 24 dias. O presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos (Fenabrave), Hugo Maia, que representa os 4,8 mil concessionários do país, aponta ainda o bem-sucedido programa do combustível alternativo, que marcou o setor em 2004. Para ele, muita gente acabou antecipando a troca do automóvel para aproveitar os preços mais baixos do álcool. O tanque do bi-combustível permite o uso de álcool ou gasolina. Depois de anos de queixas em torno da falta de rentabilidade, os concessionários fecharam o ano comemorando. Segundo Maia, a rentabilidade média do setor ficou em 1%. "Todos ficaram acima do zero", destaca o dirigente. A outra boa indicação na virada do ano veio do mercado externo. As montadoras embarcaram em dezembro mais componentes do que esperavam Isso fez o faturamento externo total do ano ganhar US$ 300 milhões além do previsto no início de dezembro, num total de US$ 8,3 bilhões. O avanço fez os fabricantes de veículos aumentaram a previsão de exportações em 2005 para US$ 8,9 bilhões, valor que representará alta de 7%. Em 2004, o faturamento das montadoras no mercado externo cresceu 51,8% .