Título: Previsões para IPCA de fevereiro sobem, mas projeções para o ano são mantidas
Autor: Martins , Arícia
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2013, Brasil, p. A2

Em vigor desde ontem, o reajuste de 6,6% da gasolina nas refinarias elevou estimativas do mercado para a inflação de fevereiro, já que a maioria dos analistas contava com um aumento próximo a esse patamar em seu cenário, mas somente a partir de meados de março ou abril. Agora, espera-se que o impacto de quase 0,2 ponto percentual do combustível irá mitigar uma pequena parte do alívio proporcionado pela queda de 18% das tarifas de energia residencial no próximo mês, o que levará o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a uma alta em torno de 0,40%. As projeções para a inflação do ano, porém, foram em grande parte mantidas.

Nas contas do Ministério da Fazenda, o preço da gasolina ao consumidor terá um aumento de 4,4% devido ao reajuste de 6,6% anunciado pela Petrobras, segundo o ministro Guido Mantega. Na sua avaliação, essa alta é "modesta" porque o preço da gasolina nos postos não sobe há, pelo menos, cinco anos. "É uma pequena correção que não vai atrapalhar ninguém", ressaltou ele, após participar de Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, em Brasília. No IPCA, o impacto, conforme Mantega, será de 0,16 ponto percentual.

Thiago Carlos, economista da Link Investimentos, trabalhava com alta de 7% da gasolina aos distribuidores, um pouco maior que o índice definido, mas não irá mudar sua previsão para o avanço do IPCA em 2013, de 5,7%. Com preços 6,6% maiores nas refinarias, o combustível chegará às bombas 4,5% mais caro, estima Carlos, o que adiciona 0,17 ponto percentual ao IPCA. Com o reajuste esperado anteriormente, o impacto de alta seria de 0,19 ponto percentual, segundo seus cálculos. "A diferença é mínima."

O efeito do corte nas contas de luz ainda prevalecerá sobre o aumento da gasolina, já que seu impacto direto na inflação de fevereiro será de 0,6 ponto percentual a menos, segundo o analista da Link. O resultado líquido da alta do combustível e do recuo dos preços de energia, em sua projeção, será um avanço de 0,41% do IPCA no próximo mês, desaceleração que também terá preços de alimentos um pouco mais comportados.

Segundo Fabio Ramos, da Quest Investimentos, os analistas projetavam que o reajuste da gasolina viria em abril porque este é um mês de alta de preços sazonalmente mais fraca. Por isso, o anúncio de que o aumento valeria já a partir de ontem provocou mais uma realocação de previsões entre os meses do que revisões para cima nas estimativas do mercado. Ramos, porém, elevou de 5,5% para 5,6% sua aposta para a alta do IPCA em 2013 porque, por não conhecer a intensidade e a data do aumento da gasolina, preferia não incluí-lo em seu cenário. Para o indicador de fevereiro, a projeção da Quest subiu de 0,30% para 0,43%.

A alta nas refinarias não chegará integralmente ao consumidor porque a gasolina tipo C, que é comercializada nas bombas, conta com 20% de álcool anidro em sua composição. Com a entrada da nova safra da cana de açúcar, a expectativa é que os preços de etanol cedam, compensando uma parte do reajuste da gasolina. Portanto, afirma Ramos, o aumento sentido no varejo será algo entre 4% e 5%. "Isso adiciona algo como 0,15 ponto percentual ao IPCA de fevereiro."

Assim como Carlos, da Link, o economista Flávio Serrano, do BES Investimento, já contava com um reajuste de 7% da gasolina em seus cálculos e, portanto, manteve em 5,8% sua estimativa para o avanço do IPCA em 2013. Uma alta de 7% nas refinarias, de acordo com Serrano, resultaria em 0,18 ou 0,19 ponto percentual a mais no IPCA. "Com o que teremos de reajuste, fica algo entre 0,17 e 0,18 ponto", calcula, o que não faz diferença para a inflação em 12 meses.

Serrano esperava, contudo, que a alta da gasolina viesse em meados de março. Com a antecipação, diz, a inflação de fevereiro será um pouco mais salgada, acima dos 0,35% projetados. O indicador oficial de março, por outro lado, ficará livre do reajuste e deve subir entre 0,5% e 0,45%. A estimativa anterior do BES era de 0,55%. (Com Eduardo Campos, Edna Simão e Lucas Marchesini, de Brasília)