Título: Empresa teme surpresas e tem plano de contingência
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Especial, p. A20

A Petrobras já tem pronto um plano de contingência para responder a qualquer medida unilateral que venha a ser tomada pelo presidente Evo Morales, como uma tomada de controle hostil das duas refinarias da estatal brasileira naquele país. Na Bolívia, o assunto tem gerado uma série de boatos.

Um deles diz que 50 bolivianos teriam sido treinados pela estatal Petróleos de Venezuela SA (PDVSA) para manter as unidades - as únicas produtoras de combustíveis - funcionando sem problemas de parada da produção. Nada que seja confirmado. Mas depois da atitude tomada pelo governo no ano passado, quando Morales convocou tropas do Exército para anunciar a nacionalização, o melhor é prevenir.

O plano prevê retirada imediata dos únicos brasileiros que trabalham como gerentes das duas refinarias ameaçadas. O gerente da refinaria Guillermo Elder Bell, em Santa Cruz de la Sierra, William Franca da Silva, diz que não está preocupado com sua situação pessoal, mas sim com o clima de medo e incerteza instalado entre os funcionários, que piorou com notícias na imprensa semana passada, sobre conversa de Evo Morales com presidente Luis Inácio Lula da Silva, quando Morales teria avisado que vai retomar as duas plantas no dia 1º de maio, na próxima terça-feira.

"Aqui as pessoas trabalham sob alta pressão e alta temperatura, literalmente. Mas precisam estar concentradas para trabalhar. Operamos uma planta industrial que tem gases e combustíveis.E tem sido um esforço tremendo manter o pessoal tranqüilo e com baixo nível de stress", desabafa Silva.

O principal temor dos funcionários é que o governo faça nomeações com critérios políticos para o lugar dos técnicos que estão empregados lá em cargos obtidos por mérito. O estilo não é estranho aos bolivianos, que assistiram recentemente a denúncias de favorecimento na Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB), a quem caberá, pela Lei, ter o controle das plantas.

O boliviano Felizardo Maraz Ordoñez, coordenador de turno na refinaria de Santa Cruz diz que não teme trabalhar para a YPFB, já que era funcionário da estatal quando a refinaria foi comprada pela Petrobras. Mas teme que os critérios salariais sejam alterados. Ele recebe um salário de 12,5 mil pesos bolivianos, dos quais 8,500 pesos se referem ao chamado salário básico e o restante a um bônus. Também há medo de demissões.

Outra questão é que se a Bolívia tomar as unidades à força poderá ter dificuldades na operação. Isso porque elas estão desconectadas do sistema de gerenciamento da companhia ao qual estão ligadas remotamente através de uma conexão. Os sistemas fazem o acompanhamento da manutenção, incidentes e outros processos operacionais.