Título: Taxas caem com corte nas margens dos bancos
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Finanças, p. C1

As taxas de juros dos empréstimos bancários voltaram a cair em março, desta vez em virtude no corte da margens dos bancos. Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o custo médio das operações com empresas e pessoas físicas caiu de 39,3% para 38,5% ao ano, o menor percentual da série estatística, que começa em junho de 2000. A contrario dos meses anteriores, em que os bancos estavam repassando aos clientes apenas parte dos ganhos com o afrouxamento da política monetária - e ficando com uma parcela -, agora a queda dos juros se deve a uma redução dos "spreads". A margem bruta média dos bancos foi reduzida de 27,2 para 26,5 pontos percentuais (pp.).

Parte da queda dos "spreads" se deve a fatores estatísticos, explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Em março, sazonalmente, os bancos contratam mais operações de antecipação de restituições do Imposto de Renda, que têm juros e "spreads" mais baixos. As estimativas do BC, feitas a partir de sondagens com instituições financeiras, são que esse tipo de operação responde por cerca de 10% do crédito pessoal.

Houve também um efeito mais estrutural de redução dos "spreads". A evidência disso é que as margens dos bancos caíram em praticamente todas as linhas de crédito. No cheque especial, caiu de 129,5 para 129,4 pp.; no financiamento de veículos, de 19,9 para 19,3 pp; e, na aquisição de outros bens que não veículos, recuou de 45,5 para 43,2 pp. Nas linhas dirigidas a empresas também houve queda nos "spreads". A margem no "hot money", por exemplo, recuou de 38,1 para 36,8 pp.; nas linhas de aquisição de bens, de 12,5 pra 10,7 pp.

A queda generalizada dos "spreads" é um sinal de que, embora leve algum tempo, os ganhos da queda da taxa Selic são ao fim repassados aos clientes. Nos meses anteriores, as estatísticas do BC vinham mostrando que, sistematicamente, os bancos vinha elevando "spreads".

As taxas de juros caíram tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas. No caso dos empréstimos para as famílias, os juros médios recuaram de 50,8% para 49,9% ao ano, o valor mais baixo da série estatística - que, para as pessoas físicas, começa em julho de 1994. Os juros para as empresas caíram de 26% para 25,4% ao ano, a taxa mais baixa desde outubro de 2002.

"Como a queda dos juros em março se deve parcialmente a fatores sazonais, é possível que tenha uma alta das taxas em abril", disse Lopes. Os dados parciais deste mês, que incluem nove dias úteis, apontam uma alta de 0,5 pp. na taxa média de juros.

O volume de crédito na economia seguiu em março o ritmo de expansão ocorrida nos meses anteriores. Avançou 1,3% no mês, chegando ao volume de R$ 757,116 bilhões, ou 31,3% do Produto Interno Bruto (PIB). O avanço foi ligeiramente superior ao observado em fevereiro, quando o crédito cresceu 1,2%. A expansão acumulada nos 12 meses encerrados em março é de 21%, não muito diferente dos 21,1% observados nos 12 meses encerrados em fevereiro.

O crescimento do crédito continua a ser liderado pelas operações com recursos livres (condições livremente pactuadas pelo mercado), que cresceram 1,9% em março, chegando a R$ 519,903 bilhões. Em 12 meses, o ritmo de expansão do crédito manteve em março a taxa de 23,5% observada em fevereiro.

Os empréstimos a pessoas jurídicas foram destaque no mês, com avanço de 2%, puxadas pelas operações de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) - o crescimento nessa linha foi de 6,5%, quando contabilizado em reais, ou 10,2%, em dólares. Já as operações com pessoas físicas cresceram 1,8%, com destaque para credito pessoal (2,9%) e para aquisição de veículos (2,6%).

O crédito com recursos direcionado se manteve estável em março, em R$ 237,212 bilhões, em virtude de fatores contábeis - o efeito da apreciação do câmbio sobre os empréstimos do BNDES. Continuaram a registrar aumentos expressivos os empréstimos a habitação (2,2%) e os financiamentos rurais (1%).