Título: Garotinho cobra cargos no ministério
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2013, Políitca, p. A8

Prestes a ser aclamado líder do PR na Câmara dos Deputados, o deputado federal Anthony Garotinho (RJ) disse ontem que se a presidente Dilma Rousseff não incluir o partido como beneficiário de algum ministério na reforma que promoverá a tendência é de que o partido vá para a oposição.

"A presidente substituiu o ministro do PCdoB no Esporte por outro do PCdoB. O do PMDB na Agricultura por outro do PMDB. O das Cidades no PP por outro das Cidades. O que o PR quer é o mesmo tratamento. Não queremos privilégios, vantagens, acordos espúrios. Queremos apenas o mesmo tratamento. E isso significa espaço político, não necessariamente nos Transportes", disse.

Trata-se de uma referência às substituições promovidas por Dilma no primeiro ano de seu mandato devido a denúncias de corrupção que atingiram alguns de seus ministros. No caso do PR, ela demitiu o presidente nacional da legenda, senador Alfredo Nascimento (AM), dos Transportes, e nomeou no seu lugar o técnico Paulo Passos. Embora filiado a legenda, o partido não reconhece a indicação como sua. Em face disso, o PR assumiu uma postura de "independência".

Sobre a situação, Garotinho concluiu: "Conversei com todos os deputados e disse a todos que essa situação é insuficiente. O partido não pode ser híbrido. Ou é governo ou é oposição. Se o partido não tiver espaço político tem que ir para a oposição."

De acordo com ele, Dilma garantiu ao presidente do partido e ao atual líder na Câmara, Lincoln Portela (PR), que deseja o PR na base e que chamará os novos líderes no Congresso para uma conversa após o Carnaval. "Esperamos ouvir da presidente o que ela pensa a respeito do relacionamento com o PR", disse.

Garotinho será escolhido líder na reunião da bancada prevista para amanhã às 12h. A tendência é de que não haja disputa e ele seja aclamado. "Temos um acordo que diz que aquele que tiver o maior número de simpatizantes deve ser o escolhido da bancada. Quem tem menos apoio deve ceder. E o Garotinho tem hoje de pelo menos 25 dos 36 votos da bancada. Será ele o próximo líder", disse o atual Portela. Entretanto, o deputado Laércio Oliveira (SE) ainda mantém seu nome como alternativa.

De acordo com Portela, a indicação de Garotinho não irá alterar a relação com o governo. "Estive com a presidente dia 14. Ela me disse que governo não entra em assuntos partidários." Ainda assim, há receio quanto a atuação de Garotinho na Casa. Por diversas vezes ele manifestou posições contrárias às defendidas pelo governo, além de ser um dos mais ferrenhos críticos ao governador do Rio, Sérgio Cabral (RJ).

Por essa razão, levar o partido para a oposição é bom para os planos de Garotinho para 2014, uma vez que ele será candidato a governador do Rio. No Estado, Dilma já tem dois palanques em construção para sua reeleição: a de Luiz Fernando Pezão (PMDB) e do senador Lindbergh Farias (PT). Assim, dificilmente Garotinho conseguiria seu apoio.

O viés oposicionista de Garotinho fez com que integrantes do PR ligados ao governo tentassem desidratar a candidatura de Garotinho a líder do partido. O deputado Giácobo (PR), próximo da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, começou a construir seu nome, mas acabou desistindo da disputa.

O PR também decidiu que será o plenário que escolherá o integrante da bancada que ocupará um cargo na Mesa Diretora. A eleição se dará entre Maurício Quintella Lessa (AL), Francisco Floriano (RJ) e o favorito, Inocêncio Oliveira (PE).