Título: PSB rejeita Renan com o aval de Eduardo Campos
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2013, Política, p. A9

A decisão anunciada ontem pelos quatro senadores do PSB de rejeitar a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência do Senado teve aval do presidente nacional do partido, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, considerado potencial pré-candidato à Presidência da República. A posição foi tomada depois que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), outro presidenciável, defendeu que a bancada tucana feche questão contra Renan.

A reunião do PSDB será tomada hoje e, segundo o líder, Álvaro Dias (PR) - um dos primeiros no partido a criticar a candidatura de Renan pelo PMDB -, a tendência é de a bancada apoiar Pedro Taques (PDT-MT), com a confirmação da indicação de Renan pelo PMDB.

A nota do PSB não cita nomes, mas define o perfil do presidente que o partido quer para a Casa: alguém que "esteja associado, perante a opinião pública, a esse ideal de renovação" exigido pela sociedade do Congresso. Assinada pelos quatros senadores do PSB, a nota defende compromisso com a ética e critica a atuação do Senado, definido como "amesquinhado, enfraquecido, submisso até na sua relação com o Poder Executivo".

Até então, a oposição a Renan no PSB só havia sido manifestada pelo senador João Capiberibe (AP), adversário político de Sarney. Ele divulgou carta aberta com críticas à atual gestão e à escolha do líder do PMDB para presidir a Casa após o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) ter divulgado longo manifesto com um diagnóstico duro da administração atual, de José Sarney (PMDB-AP), e propostas para mudar a conduta do Senado.

Eduardo Campos, até então, só havia demonstrado preocupação com a sucessão na Câmara dos Deputados, onde o PSB tem candidato próprio, Júlio Delgado (MG).

A atual líder do PSB, Lídice da Mata (BA), e seu sucessor nessa sessão legislativa, Rodrigo Rollemberg (DF), dizem que o partido respeita o direito do PMDB à indicação, por ter a maior bancada, mas criticam, principalmente, o processo de escolha - "clandestino", para Lídice, e "feito no subterrâneo", segundo Rollemberg.

Embora todo mundo saiba que o escolhido é Renan, o PMDB protelou a indicação até hoje, véspera da eleição da Mesa Diretora, e não houve debate de propostas. Mas a crítica mais ouvida no Senado é ao fato de o PMDB ignorar o desgaste que será causado ao Congresso pela eleição de um presidente cercado de polêmica e com o risco de se transformar réu em processo criminal - caso o Supremo Tribunal Federal (STF) acate denúncia apresentada contra ele pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

A reunião da bancada do PMDB para confirmar a indicação de Renan acontecerá hoje às 17h. Somente ontem à tarde, após muita negociação, os senadores Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR) fizeram acordo, para evitar que o grupo chegasse rachado à decisão de hoje.

Em "nome da unidade" do partido, Jucá cedeu aos apelos de Renan e Sarney, e recuou da intenção de disputar com Eunício a liderança da bancada. Pelo entendimento feito, Eunício será o líder do partido e Jucá, segundo vice-presidente da Casa e vice-líder da bancada.

A solução pensada anteriormente - e aceita por Jucá- para que ele fosse o líder do Bloco da Maioria (PMDB-PP-PV) e Eunício, do PMDB, fracassou por impedimentos regimentais. Os argumentos foram usados por Eunício, que não aceitou o acordo. Atualmente, Renan acumula as duas lideranças.

O embate entre Eunício e Jucá estava criando uma crise interna. Aliados de Eunício diziam que, se não fosse cumprido o acordo para ele ocupar a liderança da bancada e houvesse disputa para a vaga, nada impediria o lançamento de outro pemedebista para concorrer com Renan à indicação para presidir a Casa.

Em nota divulgada após a realização do entendimento, a liderança do partido diz que "mais uma vez, o PMDB demonstra sua unidade interna que tem proporcionado ao Brasil um quadro de estabilidade política fundamental para os avanços sócio-econômicos".

A bancada pemedebista conta com dissidentes, como Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS), que hoje fazem sua própria reunião com Taques, Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF), entre outros que buscam alternativa a Renan.

Apesar das críticas e das ações políticas de partidos contra a escolha do líder do PMDB para presidir o Senado, a expectativa geral na Casa é de vitória dele amanhã. Até lá, seus oponentes trabalham para, no mínimo, reduzir seu favoritismo.

A eleição é secreta e vence o candidato que tiver maioria simples dos votos (metade mais um dos presentes, com quórum mínimo de 41 votantes). Diferentemente do que acreditava o grupo independente, que busca alternativa a Renan, no Senado não há segundo turno.

Ou seja, a estratégia de lançar dois candidatos independentes na tentativa de agregar votos e levar a disputa para um eventual segundo turno foi descartada. A previsão é que Randolfe abra mão e apenas Taques concorra com Renan, por ter mais apoios.

Pelo menos um senador do PMDB estará ausente na votação. Luiz Henrique (SC), com problemas de saúde, só retorna a Brasília após o Carnaval. Ele foi muito pressionado pelos independentes a disputar contra Renan, mas, sem apoio do Palácio do Planalto, recusou. Houve tentativas também de convencer Waldemir Moka (PMDB-MS), mas ele negou-se a criar uma disputa interna.