Título: BNDES recupera créditos do Santos
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Finanças, p. C1

A estratégia montada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para recuperar seus créditos junto ao seu ex-agente financeiro, o Banco Santos, está dando certo. O exercício da sub-rogação, pelo qual o BNDES assume automaticamente o papel de credor do seu tomador indireto e o agente sai de linha - adotado no caso das operações indiretas efetuadas com o banco quebrado -, está se mostrando eficiente. Até o final de dezembro o BNDES já havia recebido R$ 49,7 milhões referentes a créditos vencidos entre novembro e dezembro. No total, tem a receber em três anos R$ 950 milhões, o que corresponde a 1.090 operações. O diretor da área de operações diretas do BNDES, Maurício Borges Lemos, está satisfeito com o sucesso da recuperação do crédito e espera que também tenha êxito a ação que está sendo movida junto ao Ministério Público Federal por conta de "falsas operações de reciprocidade" do Santos com dinheiro do BNDES junto aos tomadores dos recursos da instituição oficial. Os recursos, repassados pelo BNDES ao banco paulista para pagar seus clientes, eram usados para compra por estes clientes de CDBs e debêntures, quando eram exigidas reciprocidades pelo banco paulista para liberar o dinheiro. Em novembro, foram pagos R$ 19,5 milhões diretamente ao BNDES pelos tomadores que tinham contratado crédito indireto com o Banco Santos, de um total de R$ 44 milhões vencidos em novembro, ou 44% do total do mês. Em dezembro, foram recuperados mais R$ 30,2 milhões, 67% de R$ 45 milhões. Para janeiro, a expectativa é recuperar 90%, diz Mário Guedes de Mello Neto, superintendente da área de crédito e um dos articuladores da operação. "Estamos cobrando em cima. Minha expectativa de receber um maior volume de prestações devidas em janeiro sobe muito porque parte dos tomadores se recusou a pagar e achavam que não íamos cobrar. E tomaram um susto porque vão receber a segunda cobrança agora. Os que não pagarem até 20 de janeiro sabem que serão colocados na central de risco do Banco Central e aí terão seus créditos cortados no sistema financeiro do Brasil inteiro. Vai ter um monte de gente correndo para pagar", afirmou Mello Neto. Das 1.090 operações que estavam sob a responsabilidade do Banco Santos, 247 eram referentes a financiamento de exportações, do BNDES-Exim. Os restantes 843, da Finame. Essas operações já foram todas internalizadas dentro da cobrança do BNDES desde o início de dezembro. Elas estavam anteriormente na cobrança do Santos. Mello Neto disse que o BNDES tem muitas despesas para administrar esta carteira, tendo de enviar funcionários a estas empresas para fazer cobrança. O plano do banco é repassá-la para um outro agente financeiro. "Estamos olhando isso. Diversos bancos já nos procuraram. Mas, queremos um agente que tenha uma rede de agências que atenda as áreas onde o Banco Santos atuava, mais o Sul e o Sudeste." Ele destacou que não tem prazo para esta negociação. "Leva a carteira quem me der melhor venda." Depois do "susto" da intervenção num banco do porte do Santos, a área de crédito do BNDES, junto com o departamento de risco de instituições financeiras, que avalia o rating dos 180 agentes, fez um exame mais acurado e alguns testes nos agentes financeiros do banco. "Soubemos que diversas instituições sofreram ataques e estabelecemos alguns parâmetros para medir sua saúde. Por exemplo, levantamos quem aguentaria sofrer um saque de 30% ou de 50% e, nesses casos, como ficariam seus índices de liquidez. Tivemos que exigir algumas medidas de quem ficou fora da curva, como capitalização, e até segurar as liberações. Mas, tudo já está sendo ajustado." A figura do crédito sub-rogado com amparo da Lei 9.365/96 foi instituído a pedido do próprio BNDES, mas nunca tinha sido usada em intervenção de grandes bancos. Pouco antes da intervenção no Santos, o BNDES criou o Departamento de Operações Sub-Rogadas, facilitando a tarefa. "Estamos prontos para agir em 24 horas e sub-rogar qualquer operação de agente financeiro que venha a sofrer intervenção do BC", disse o diretor.