Título: PIB cai e aponta expansão lenta, mas estável, dos EUA
Autor: Harding , Robin
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2013, Internacional, p. A11

No quarto trimestre de 2012 a economia dos EUA encolheu 0,1%, na comparação ano a ano. Foi a primeira contração em três anos. O recuo surpreendeu os mercados financeiros e chamou a atenção para o perigo de cortes generalizados de gastos previstos para março.

Boa parte da queda do Produto Interno Bruto (PIB) se deveu à grande reviravolta nos estoques das empresas e à queda vertical do gasto federal com equipamento bélico. Cada um desses dois fatores ceifou 1,3 ponto percentual do PIB. Isso sugere que a economia americana como um todo continua numa trajetória de crescimento fraca, mas estável, de 1% ou 2%.

Mas o primeiro declínio da economia americana desde o fim da recessão, em 2009, põe em xeque o crescente otimismo e chama a atenção para o grau de incerteza gerado pelas disputas políticas em Washington sobre a política fiscal.

Os mercados previam crescimento de 1,1%. A sólida expansão da demanda - principalmente dos investimentos das empresas, que deixaram de lado o temor com as atitudes políticas temerárias na política fiscal e cresceram 8,4% anualizados -- indica uma economia razoavelmente saudável.

Os dados não deverão provocar mudanças na política monetária no Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). A instituição observou que "o crescimento do nível de atividade econômica sofreu uma interrupção nos últimos meses, em grande parte devido a turbulências de origem climática e a outros fatores passageiros", o que sugere que o BC não viu significado maor nos últimos dados.

"Sinceramente, esta é a contração do PIB menos feia de todos os tempos", disse Paul Ashworth, economista-chefe para os EUA da Capital Economics de Toronto. Ele previu que o crescimento do primeiro trimestre será bem fraco, mas observou que não havia nada nesses números "suficiente para mudar nossa opinião de que o crescimento do PIB dos EUA vai se acelerar ao longo deste ano".

Justin Wolfers, pesquisador-visitante-sênior da Brookings Institution de Washington, disse ser "prematuro e quase certamente errado" falar de uma recessão.

Os dados decisivos do nível de emprego mensal, com divulgação prevista para amanhã, serão um indicador melhor sobre a possibilidade de os EUA estarem numa verdadeira desaceleração ou se os números do último trimestre são um fenômeno passageiro, uma reversão do sólido crescimento do terceiro trimestre, de 3,1%.

Houve um indício animador. A empresa privada de processamento de folhas de pagamento ADP informou ontem que seu levantamento detectou a abertura de 192 mil novas vagas em dezembro.

Mas a queda dos gastos do governo federal com material bélico deverá alimentar o temor - que a Casa Branca se apressou em amplificar - com as consequências econômicas do gatilho automático de cortes generalizados previsto em lei para vigorar a partir de março.

Alan Krueger, presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Presidência, escreveu no blog da Casa Branca que "a incerteza que cerca os cortes automáticos de gastos" é o motivo mais provável da queda dos gastos militares.

Um número crescente de analistas considera não haver vontade política suficiente para deter o gatilho automático de cortes, e que ele deverá ser acionado ao menos temporariamente, o que representará um risco a mais para a economia neste primeiro semestre.

Os efeitos das longas negociações para evitar o abismo fiscal - os cortes de gastos do governo e os aumentos de impostos que entrariam em vigor no fim de 2012 - se fizeram sentir claramente na grande elevação, de 6,8%, da renda disponível no quarto trimestre.

Wall Street sofreu uma queda com o maior impressão de volatilidade, e o dólar americano registrou vendas maciças. Mesmo assim, a demanda por títulos do Tesouro dos Estados Unidos - que tende a subir em períodos de incerteza - recuou, causando uma alta de 2 pontos-base, para 2,01%, do rendimento do bônus de 10 anos.