Título: Banqueiros vêem risco baixo e descartam ajustes abruptos
Autor: Assis Moreira De Basiléia (Suíça)
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Finanças, p. C2

Os maiores bancos privados internacionais e os principais bancos centrais do planeta fizeram uma avaliação "razoavelmente positiva'' da economia mundial, em reunião ontem no Banco para Compensações Internacionais (BIS), na Basiléia (Suíça). O único emergente convidado foi o Brasil, através do BC e do Banco Itaú. Eles constataram que os mercados estão precificando no momento um nível de risco ''equilibrado, que não é alto'' para a economia global este ano e não esperam movimentos ''abruptos'', apesar das preocupações com o impacto do ajuste do dólar e alta de juros nos Estados Unidos. A avaliação do próprio BIS, para ajudar no debate, destacou os riscos persistentes por causa dos desequilíbrios na economia mundial. O banco dos bancos centrais enfatizou a defasagem relativamente grande entre o que acontece nos mercados, por exemplo, com o valor do dólar, e o que vai acontecer nos EUA e nas demais economias como resultado do ajuste que já aconteceu da moeda americana. Ou seja, a queda do dolar não se refletiu nos ativos de maneira geral, como nos preços das commodities etc. Analistas nos Estados Unidos e na Europa estimam que o Federal Reserve (Fed), o BC americano, vai continuar aumentando as taxas de juros em 25 pontos básicos em cada futura reunião até agosto, o que elevará a taxa a 3,5% ao ano até la. Nesse cenário, o mercado de juros do Tesouro americano volta a atrair a atenção dos investidores internacionais. O capital que migrou para os emergentes entre 2002-2004 dará início a seu caminho de volta. Com esse efeito do retorno de capital, os mercados emergentes sofrem ajustes em seus ativos financeiros - bolsas, títulos da dívida soberana, risco-país e taxa de câmbio. Há assim risco de novo desarranjo nas economias emergentes, com a saída do elevado volume de capitais que essas economias receberam das economias industrializadas nos últimos três anos. O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, reconhece que "riscos de estresse e movimentos abruptos'' nos ativos podem ocorrer de todo jeito, desde retorno maior de volta de capitais para os EUA, tão radical que complica a situação dos emergentes, como também o oposto a isso, com os investidores fazendo uma fuga desordenada do dólar e recorrendo também para os emergentes. Mas ressalva que uma das conclusões do encontro de ontem no BIS foi justamente de que os mercados ''não estão precificando ainda esse tipo de risco''. Segundo Meirelles, "está-se dizendo que, principalmente em relação ao dólar, os mercados não estão precificando no momento riscos elevados. E se espera um movimento ordenado seja em qualquer direção''. De acordo com Meirelles, ficou enfatizado ontem em Basiléia que, independente do risco ou do que ocorra no cenário internacional, o Brasil está bem preparado para essa movimentação "na medida em que os fundamentos da economia brasileira estão num dos melhores momentos de sua história''. "Só se falou bem do Brasil'', reforçou Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú. Segundo ele, os participantes manifestaram uma ''preocupação normal'' com a conjuntura atual, o que significa correção "sem crise" no mercado. O Brasil, único emergente presente, tem se tornando menos e menos assunto da reunião. Meirelles disse que a avaliação foi de que uma das razões pelas quais a economia mundial hoje oferece menos risco é o ajuste feito por alguns emergentes. ''O Brasil é fator importante hoje no maior equilibrio da economia mundial'', disse.