Título: Petrobras acerta compra de GLP com Nigéria e Omã
Autor: Schüffner, Claudia e Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Empresas, p. B10

Menos de uma semana após a Bolívia haver cortado por um dia 20% do fornecimento de gás natural ao Brasil, a Petrobras tomou medidas concretas para reduzir a dependência do gás boliviano. O diretor de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer, assinou "acordo de intenções" com a nigeriana Nigerian LNG para a compra de gás liqüefeito de petróleo no mercado livre a partir de abril de 2008. Foi também assinado um "acordo de confidencialidade" com a Oman LNG, com o mesmo objetivo. Sauer disse ao Valor que em maio irá à Argélia negociar outro contrato.

"Não só por causa da Bolívia, mas em razão da importância que o gás natural passará a ter na matriz energética, o Brasil precisa ter múltiplas fontes de abastecimento", afirmou Sauer após ressaltar que em 2010 o mercado brasileiro de gás natural será de 120 milhões de metros cúbicos por dia, equivalentes a 800 milhões de barris de petróleo/dia, contra a média de 42 milhões por dia verificados em 2006. Na semana passada a diretoria da Petrobras havia aprovado o afretamento de dois navios para transporte e regaseificação de gás natural da Golar LNG, da Noruega.

Os navios, um com capacidade para regaseificar 14 milhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito (GNL) e outro para 7 milhões de metros cúbicos, vão transportar o GNL para dois terminais no Brasil, localizados no Rio de Janeiro e Ceará. O primeiro deles deverá entrar em operação em abril de 2008 e o segundo, no primeiro trimestre de 2009. Ontem Sauer disse que está negociando a contratação de um terceiro navio, aumentando a capacidade de regaseificação para até 35 milhões de metros cúbicos por dia. Seria então construído um terceiro terminal, em São Francisco do Sul (SC).

O diretor da Petrobras explicou que os contratos de fornecimento que estão sendo assinados não têm preço e nem volume firme de fornecimento previsto. Como as compras serão feitas pelas regras do mercado livre, fixado em Henry Hub (Estados Unidos), a Petrobras comprará em cada momento os volumes que considerar necessários e pagará o preço do momento.

Sauer destacou, ainda, que quando os navios estiverem ociosos poderão operar no mercado internacional, prestando serviços ou compartilhando cargas de GNL com outras companhias. Segundo ele, se houvesse embarque agora, o preço seria de US$ 7 por milhão de BTU (medida de poder calorífico do gás). Há um mês, o preço seria de US$ 5 por milhão de BTU.

Sauer destacou que a flexibilidade dos contratos dará à Petrobras a condição de importar o gás apenas nos momentos de demanda, evitando o ônus do modelo "take of pay" contratado com a Bolívia. Nesse modelo, a Petrobras paga pelo volume total que é possível de ser transportado pelo gasoduto (hoje, 30 milhões de metros cúbicos/dia), mesmo que esteja efetivamente importando quantidade menor (atualmente, cerca de 26 milhões de metros cúbicos/dia).

O propósito é destinar o GNL importado prioritariamente para as usinas termelétricas. Elas são colocadas em funcionamento apenas nos momentos em que há insuficiência de água para as usinas hidrelétricas ou então quando é conveniente reduzir a produção de energia de origem hídrica para poupar água nos reservatórios. Em abril de cada ano, encerrada a estação chuvosa nas principais bacias hidrográficas que alimentam o sistema hidrelétrico do país, já será possível fazer uma previsão para as importações de GNL.

Segundo Sauer, com a capacidade dos dois primeiros navios (21 milhões de metros cúbicos/dia), será possível abastecer metade das atuais termelétricas brasileiras no período que elas venham a ser acionadas. A importação de GNL é uma das iniciativas da Petrobras para reduzir a dependência da importação de gás boliviano. A medida tornou-se urgente desde maio do ano passado, quando a Bolívia nacionalizou suas reservas e passou a exigir mudanças contratuais para aumentar preços. Outra saída que a estatal está buscando implementar é o aumento da produção interna, agilizando a entrada em operação de campos de gás no Espírito Santo e na bacia de Santos (SP).