Título: Para economistas, reação do dólar é temporária
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Finanças, p. C3

A mesma volatilidade que provocou alta do risco-Brasil durante a semana passada elevou a cotação do dólar em relação às principais moedas internacionais. Depois de perder mais de 25% em relação ao euro e iene no ano passado, na primeira semana de 2005 a moeda americana chegou a subir até 2%, estimulada pelo nervosismo do mercado em relação ao texto da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Quando elevaram as taxas de juros pela última vez, em dezembro, os diretores do Fed ressaltaram a preocupação com a inflação e a ineficácia das taxas de juros no patamar atual para combatê-la. Mas dificilmente a alta da semana passada será mantida a ponto de fazer o dólar retornar às cotações do início do ano passado em relação ao iene e euro. "Acho que é um fenômeno temporário. A correção dos déficits de conta corrente ainda vai demandar um pouco mais de desvalorização do dólar", afirma o economista da Lehman Brothers, Drew Mathus. Para John Welch, estrategista de mercados emergentes da mesma instituição, "está claro que o dólar não vai cair muito mais do que já caiu, mas não acredito que haja uma recuperação expressiva". O banco previa uma cotação máxima do euro em relação ao dólar de 1,40. O recuo ocorreu depois de o euro atingir 1,32 dólar. Analistas lembram que dificilmente o Federal Reserve vai elevar juros drasticamente, como fez em 1994, sob risco de criar uma crise no mercado imobiliário americano. A solução mais provável é uma redução a médio prazo dos déficits. Durante o fim de semana, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato, escreveu um artigo para o jornal italiano "La Stampa" dizendo que os déficits americanos são "realmente excessivos" e que os EUA precisam tomar atitudes para resolvê-los, embora tenha ressaltado que a Europa também precisa flexibilizar a legislação trabalhista e o Japão, aprofundar as reformas. A chave para prever o comportamento dos mercados de moedas será a conduta da China em relação ao câmbio. O país afirma que vai começar a tornar sua moeda mais flexível, mas não especifica uma data. Mathus, da Lehman, diz que o banco prevê uma mudança ainda em 2005, inicialmente trocando a atual âncora cambial do dólar para uma âncora representando uma cesta de moedas. Apenas esta mudança já provocaria uma revalorização da cotação atual de 8,2765 yuan por dólar para 7,9 no fim deste ano. No fim do ano que vem, o dólar já estaria valendo 7,2. Se a China realmente começar a valorizar sua moeda, a tendência é de encarecimento de suas exportações e redução gradual do déficit de conta corrente americano. Com isso, a pressão sobre moedas como o euro e iene seria aliviada. A pior situação em termos de falta de poder sobre os mercados de câmbio é a do Banco Central Europeu (BCE), que não tem condições de intervir tão fortemente como os bancos centrais asiáticos. A desvalorização do dólar deve ser uma das questões centrais da reunião de presidentes de bancos centrais na Basiléia, Suíça, que começou ontem, e crescem as especulações sobre algum tipo de coordenação entre países para suavizar o movimento nos mercados de moedas. A possibilidade de um movimento coordenado, entretanto, é pequena, porque hoje os países têm interesses diferentes. Os Estados Unidos, apesar do discurso, preferem um dólar desvalorizado para reduzir o fluxo de importações, e o interesse dos países asiáticos, que sustentam suas economias com importações, principalmente para os EUA, é oposto. Outro problema que começa a ser observado pelos bancos centrais é a mudança no ritmo de crescimento da economia global. Já há sinais de redução do ritmo de crescimento depois de um excelente ano de 2004. Ainda não está claro qual será o impacto sobre o crescimento mundial do maremoto que atingiu e destruiu regiões inteiras em países da Ásia.