Título: Exportação brasileira para o Egito cresce apesar de crise no país
Autor: Paolozzi , Vitor
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2013, Internacional, p. A11

Apesar de a economia do Egito ter sofrido um forte golpe desde o início dos protestos da Primavera Árabe, há cerca de dois anos, as relações comerciais do Brasil com o país africano não estão sendo abaladas. Até o momento pelo menos, as exportações brasileiras continuam crescendo. No ano passado, o Egito ficou no 22º lugar na lista dos principais compradores de mercadorias brasileiras.

No entanto, a economia do país está sob forte pressão. A libra egípcia está se desvalorizando rapidamente. Só no último mês, a moeda perdeu cerca de 7,5% do seu valor em relação ao dólar, e analistas acham que ainda não chegou ao fundo do poço. O processo de instabilidade política está atrasando um crucial empréstimo de US$ 4,8 bilhões do Fundo Monetário Internacional, além da liberação de fundos da Alemanha, do Banco de Desenvolvimento Africano, da União Europeia e da França.

O investimento estrangeiro no país foi congelado, e as reservas internacionais caíram de US$ 36 bilhões, em 2011, para cerca de US$ 15 bilhões. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu menos de 2% no ano passado. Em 2011, apenas 1%. Antes do início da crise, o PIB vinha se expandindo mais de 5% ao ano (de 2006 a 2008 a alta foi superior a 7%).

Em 2010, as vendas do Brasil para o Egito totalizaram US$ 1,967 bilhão. No ano seguinte, o Brasil exportou ainda mais: US$ 2,624 bilhões. Em 2012, houve um aumento marginal; as importações do Egito atingiram um valor de US$ 2,711 bilhões.

Os principais produtos brasileiros exportados para o Egito são cereais, minérios, carnes e açúcares. Já a pauta de importações se constitui principalmente de adubos e fertilizantes, algodão, vidro e plásticos.

Mesmo com a atual crise política, que vem gradualmente se agravando desde novembro, quando o presidente Mohamed Mursi baixou um decreto em que se autoconcedeu poderes ditatoriais, empresas brasileiras como o frigorífico JBS não vêm sentindo nenhum impacto negativo em suas exportações. Os tumultos que acontecem em várias cidades egípcias estão até provocando um efeito favorável: com receio de sair às ruas, as pessoas estão comprando mais carne para consumir em casa.

"O cenário político tem tido muitas alterações, mas isso não causou mudanças nas vendas. O Brasil transformou o Egito num mercado extremamente cativo", afirma Antonio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Segundo Camardelli, no ano passado o Egito ficou em quarto lugar no ranking dos compradores da associação - em 2012 as compras somaram US$ 551 milhões, alta de 25% em relação a 2011. Se a moeda egípcia continuar se desvalorizando, os exportadores podem contornar o problema oferecendo outros tipos de cortes, diz Camardelli.

O governo brasileiro enxerga no Egito um bom mercado para ampliar suas vendas. Relatório sobre o país preparado em 2010 pela Apex, a agência estatal de promoção do comércio exterior brasileiro, afirma que "a aproximação com o Brasil é cada vez mais perceptível nesse sentido. Após o início do governo Lula, as relações do Egito com o Brasil aumentaram substancialmente com o estabelecimento de acordos bilaterais de comércio, de cooperação técnica e científica e outros específicos na área agrícola".

As perspectivas para o futuro são de mais avanço no comércio entre os dois países. Prevê-se para os próximos meses a ratificação pelo Congresso brasileiro do acordo de livre comércio entre o Egito e o Mercosul assinado em 2004 e aprovado em 2010 pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

Com o acordo haverá uma significativa redução das barreiras egípcias às importações. Atualmente, enquanto países como Iêmen e Emirados Árabes Unidos possuem tarifa de importação de cerca de 5%, o Egito impõe uma tarifa bem maior (16%).

Na avaliação da Apex, com a entrada em vigor do acordo, embora deva haver um aumento do fluxo de mercadorias entre os dois países, possivelmente ocorrerá uma diminuição do saldo comercial a favor do Brasil. Historicamente, o Brasil sempre manteve um saldo positivo, com margens que habitualmente ultrapassam 90%.