Título: Avanço na parceria do etanol com EUA
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Agronegócios, p. B16

Responsável pela administração de um orçamento de US$ 1,5 bilhão para pesquisas e desenvolvimento de energias renováveis no governo dos Estados Unidos, o secretário-adjunto do Departamento de Energia do país, Alexander Karsner, avalia como um "sinal político substancial e importante" sua visita ao Brasil nesta semana para discutir a implementação da agenda dos biocombustíveis com ministros brasileiros.

"Minha presença aqui é um sinal político. Fui confirmado pelo Senado e encarregado pelo presidente [Bush] para entregar um memorando, procurar minha contraparte no Brasil e fazer um sério convite a trabalhar em nossos laboratórios no Colorado [especializados em energias renováveis]", afirma ao Valor. "Acredito que este é um sinal político, substancial e importante, que contribuirá para aproximar nossa relação".

Em rápida visita a Brasília, Karsner deixa um claro recado ao governo brasileiro: a iniciativa do presidente George W. Bush é para valer, não apenas intenção. "É um plano muito ambicioso. Não é uma visão, porque o tempo é muito curto. É um plano de negócios, um plano de ação, com prazos e em milhares de toneladas", reitera.

A idéia, segundo ele, é usar a liderança do Brasil no setor para "ganhar alguma sinergia, acelerar em coisas como especificações e padrões globais e no desenvolvimento de mecanismos para terceiros países", na América, África e Ásia. "Podemos definir um escopo de colaboração entre universidades, laboratórios, [fazer] interação acadêmica e colaboração em negócios que serão maiores que a soma das partes. A hora é de implementar isso. Por isso, estou aqui".

O secretário adjunto para Eficiência Energética e Energia Renovável dos EUA afirma não conhecer exatamente os planos do Brasil, mas adianta que as tarifas impostas por seu país ao etanol nacional "não determinam" as relações bilaterais.

"As tarifas não vão determinar nossas relações. É realmente muito mais importante uma discussão estratégica maior. As tarifas se tornarão importantes quando realmente atrapalharem esse crescimento [das vendas]", argumenta. "Não vejo mudanças na questão das tarifas no curto prazo. Caberá ao futuro governo e ao futuro Congresso determinar, quando as tarifas expirarem, se elas serão renovadas. É um longo caminho até lá. Mas a maioria das pessoas com que conversamos no Brasil dizem que as tarifas não afetam tanto assim. Talvez desapareçam eventualmente, mas não no momento".

Para além da polêmica, Karsner avalia que os temas vitais são a garantia de estoques para o abastecimento e a matéria-prima para a produção do etanol, além de transporte, logística e sistemas de escoamento. "Como criaremos infra-estrutura para a economia do etanol?", questiona. Para ele, é urgente trabalhar nas especificações e padrões universais para o comércio de etanol. "O mais importante, porém, é a ciência e a tecnologia de sustentação da plataforma de conversão. Como transformar isso de forma eficiente, num processo econômico, dentro de uma escala e de forma rápida?".

Ex-empresário do setor energético, Karsner revela que seu governo mantém apostas em carros movidos a etanol de celulose, eletricidade e hidrogênio e combustíveis híbridos. Também diz que não se preocupa com críticas à busca por novas fontes alternativas em outros países e prega a necessidade de se chegar a combustíveis de usos múltiplos com garantia de eficiência veicular.

"Qualquer combustível ou nova fonte de energia gera novas preocupações. Eles têm novos impactos. Então, é inevitável que uma nova discussão seja levantada sobre crescimento sustentável da conversão dos biocombustíveis ou sobre como utilizá-los nos motores e a manutenção dos veículos. Isso ocorreu com a discussão sobre gasolina com ou sem chumbo.

Não é novidade que uma nova fonte de energia ou de suprimento de combustível leve a novas questões", entende. "Claro, as pessoas que têm interesses em velhas fontes são tipicamente mais preocupadas do que aqueles interessadas em novas fontes", diz o secretário.

Em defesa da iniciativa lançada por Bush, afirma ser possível aferir avanços: "Sabemos que biocombustíveis, combustíveis híbridos, hidrogênio, veículos mais eficientes, novas tecnologias e novas fontes significam menores emissões de CO2, que melhoram nossa qualidade de vida, o desenvolvimento econômico e realçam nossa segurança. Então, é um avanço irreversível. E a economia tem que se ajustar".

À frente do processo de implementação da agenda de Bush para o setor, o secretário afirma que as relações bilaterais vão se intensificar ainda neste semestre, prega a convivência dos dois setores rurais porque o "bolo é grande" e o Brasil tem que usar o etanol para abastecer o mercado interno.

"O presidente Bush lançou um enorme objetivo dizendo que o bolo é muito, muito grande. Mesmo o Brasil precisa hoje de quase toda sua produção própria. Assim como nós. A idéia é de que devemos fazer crescer de forma responsável o setor de biocombustíveis para que possamos dividir com outros [países] uma enorme commodity global de um mercado de combustível limpo e renovável", defende. "Há uma inevitável marcha mundial em direção à globalização e a interdependência. Não se pode voltar o relógio".

Entre os argumentos, Karsner avalia que os americanos sentem-se "felizes" com uma interdependência relacionada ao Brasil e a terceiros países do Hemisfério Ocidental, numa clara referência à dependência americana do petróleo do Oriente Médio. "Os EUA sempre perseguiram uma aliança energética. Temos que fazer negócios no mundo, temos que ser interdependentes. Mas a questão é com quem ter essa interdependência? A maioria dos americanos gostaria de negociar mais, de ter interdependência com nossos amigos do Brasil, do Hemisfério Ocidental, com países de estilo de vida democrático e valores de liberdade".

"Claro que o Brasil é diferente dos EUA de várias maneiras. Mas compartilhamos uma forte paixão por nossas liberdades e estilos de vida. Os americanos estão felizes por negociar com aliados como o Brasil. Não vejo nenhuma preocupação".