Título: Lucro sustentável
Autor: Zaparolli, Domingos
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2007, Caderno Especial, p. F1

Adotar boas práticas de gerenciamento ambiental resulta em redução de custos operacionais, acesso a mercados e maior valor agregado aos produtos. E também em boa reputação para as empresas identificadas como ecologicamente corretas. Micros e pequenos empresários que já atentaram para as oportunidades que a sustentabilidade ambiental podem gerar para seus negócios contabilizam bons resultados. Mas as iniciativas neste sentido ainda são raras.

"A ecoeficiência, que é produzir mais, com menor impacto ambiental, ainda é um item estranho ao gerenciamento da grande maioria das micro e pequenas empresas brasileiras", reconhece Nelson Pereira dos Reis, vice-presidente e diretor de meio ambiente da Fiesp. Reis aponta dois fatores que contribuem para esta realidade. Primeiro, a desinformação. "Ainda prevalece a visão de que meio ambiente é custo, um empecilho a mais ao fechamento das contas no final do mês", afirma.

Outro fator importante é que as micro e pequenas empresas sofrem menos pressão da sociedade, que tende a associar problemas ambientais com a ação de grandes empresas. Este comportamento produz acomodação entre os pequenos empreendedores, reduzindo o interesse destes pela busca de tecnologias e técnicas gerenciais ecoeficientes.

"Esta situação começa a mudar, na medida em que a sociedade e os próprios empresários se conscientizam de que o impacto ambiental da atividade econômica é um problema a ser enfrentado por todos e que há soluções economicamente viáveis para que isso ocorra", diz Reis.

Uma série de novas iniciativas contribui para a difusão destas soluções. Instituições como a Fiesp, o Sebrae, a Fábrica do Milênio, o Instituto Ethos e associações empresariais têm se dedicado a apoiar micro e pequenas empresas interessadas em promover a sustentabilidade de suas atividades.

Na Fiesp, informa Reis, os trabalhos seguem duas linhas principais: o apoio ao desenvolvimento de procedimentos para a adequação ao licenciamento ambiental. E a elaboração e disponibilização de técnicas de gerenciamento sustentáveis.

Já na unidade paulista do Sebrae, segundo a consultora Dórli Martins, a ecoeficiência passa a figurar entre as modalidades de consultoria oferecidas a partir de 1º de junho, com o lançamento do Programa Gestão Ambiental, que contará com um grupo de 22 consultores e capacitadores. O programa terá como objetivos o incentivo ao reaproveitamento de resíduos industriais e o consumo adequado de insumos como energia e água.

No Sebrae do Rio de Janeiro o programa de incentivo ao gerenciamento ambiental já é realidade. "Nossa estratégia é mostrar ao empresário os benefícios concretos gerados pela ecoeficiência e que isso pode ser conseguido com medidas de baixo custo", diz Ricardo Wargas, gerente de econegócios do Sebrae-RJ.

A Congelados da Sônia, empresa carioca especializada em refeições prontas, obteve, com o apoio do Sebrae, uma significativa redução de custos operacionais. Segundo o diretor Bruno Figueiredo, desde 2000 a empresa promove melhorias contínuas em seu processo de congelamento. Uma única ação, a substituição de 19 freezers individuais por uma câmara frigorífica com 16 portas, gerou uma economia de 7 mil kwh por mês, ou 39% do consumo mensal de energia.

A conta de gás também foi reduzida em 32%, com o uso de GLP. O reaproveitamento da água de condensação dos aparelhos de ar-condicionado, das câmaras frigoríficas e dos super-congeladores, que passou a ser utilizada para descarga dos vasos sanitários e limpezas de equipamentos gerou uma economia de 14m³ mensais de água, reduzindo em 5% os gastos com o insumo.

Além disso, a empresa implantou um programa de coleta seletiva de lixo, cujos resultados financeiros obtidos com a venda de papelão, garrafas e latas são destinados a ações de recursos humanos voltadas aos funcionários. "Com este conjunto de ações, reduzimos custos e ganhamos produtividade. É excelente", diz Figueiredo.

A iniciativa do Instituto Ethos visa a sustentabilidade ambiental e social em cadeias produtivas e é resultado de um convênio assinado em 2006 com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O programa, batizado de Tear, conta com um orçamento de US$ 2,6 milhões.

Empresas como Petrobras, CPFL, Extra, Vale do Rio Doce, Belgo, Takaoka e Camargo Corrêa se comprometem, cada uma, a selecionar 15 pequenos e médios fornecedores para disseminar tecnologia e conceitos sustentáveis durante três anos, com o apoio de um grupo de consultores contratado pelo programa.

As empresas beneficiadas, por sua vez, devem repetir o processo com seus próprios fornecedores. "A idéia é multiplicar a promoção da sustentabilidade por toda cadeia produtiva", diz Paulo Itacarambi, diretor executivo do Ethos.

O executivo acredita que o Brasil está no limiar de uma onda de sustentabilidade nas empresas, como a vivida nos anos 80 e 90 com a questão da qualidade. "Os consumidores querem saber como as empresas produzem e preferem comprar o que é feito com menor impacto ambiental".

Este comportamento descrito por Itacarambi já é bem nítido na Europa e se reflete em normas que a Comunidade Européia impõe para a comercialização de produtos eletroeletrônicos, automotivos, químicos e derivados de madeira.

"A nova geração de legislação ambiental estabelece regras sobre todo o ciclo de vida do produto, da matéria-prima utilizada até a destinação final do mesmo, após seu uso", diz o engenheiro de produção Aldo Ometto, pesquisador de engenharia ambiental do Instituto Fábrica do Milênio.

Segundo Pereira dos Reis, da Fiesp, a necessidade de adaptar-se a estas regras já começa a se fazer sentir na política adotada por exportadores, sindicatos e associações empresariais de setores mais visados pela legislação ambiental. "Inserir a cadeia produtiva e a rede de distribuição dos produtos na gestão ambiental passou a ser um imperativo para quem exporta. Quem não atentar a este fato ficará fora dos mercados mais exigentes", afirma o executivo.

Desenvolver produtos ecologicamente corretos também pode ser uma boa estratégia de negócios. É o que descobriu Davis de Luna Tenório, diretor-presidente do Grupo Eco. Há três anos, Tenório vislumbrou a oportunidade de se estabelecer no segmento de eventos, com a oferta de stands ecologicamente corretos, produzidos com madeiras certificadas e materiais pintados com tintas e corantes naturais, decoração, brindes e papéis artesanais, produzidos com material de origem certificada e bufê orgânico. Além disso, Tenório garante ao cliente a correta destinação final de todo material utilizado no evento.

O Grupo Eco já conta com uma carteira de 150 clientes fixos, onde constam nomes de peso como Real ABN Amro, BM&F, Natura, Itaú e Suzano Papel e Celulose. Em 2006, apresentou um faturamento de R$ 12 milhões, 50% superior ao do ano anterior e a expectativa é dobrar de tamanho em 2007. "Temos um produto diferenciado, que nos distingue no mercado.", diz Tenório.

A aposta em um nicho de mercado ecologicamente correto e ainda pouco explorado também é a estratégia da confecção YD, empresa paulista especializada na produção de jeans para terceiros. Os sócios Paula e Jorge Yammine e Eber Ferreira montaram uma segunda empresa, a Coexis, especializada em calças, camisas, blusas e jaquetas feitas com algodão orgânico e tingidas com corantes naturais e certificadas com o selo N.O.W. (Natural Organic World).

A Coexis já acertou seu primeiro contrato de exportação. Nos EUA, um jeans tradicional é vendido por US$ 14,00 a US$ 25,00. Já uma calça orgânica vai de US$ 25,00 a US$ 50,00. No Brasil, a Coexis fez acordo com as marcas Cantão e Redley, que irão lançar coleções com o selo N.O.W. no próximo Rio Fashion Week.