Título: Vacinar ou não o gado contra a aftosa, eis a questão no RS
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2007, Agronegócios, p. B11

A menos de um mês da reunião anual da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), em Paris, que pode reconhecer Santa Catarina como Estado livre de febre aftosa sem vacinação, ressurge no Rio Grande do Sul um debate desde sempre controverso: vacinar ou não vacinar o gado bovino?

Um dos defensores da idéia, Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína (Abipecs) e também criador, acredita que o Estado deveria deixar de vacinar a partir de julho próximo, quando acontece a segunda fase da campanha de vacinação.

Com essa decisão, após um ano, ou seja, no segundo semestre de 2008, o Estado faria sorologia dos animais e poderia pedir, até 31 de dezembro do ano que vem, o reconhecimento da OIE como livre de aftosa sem vacinação. A solicitação entraria, então, na pauta da reunião da OIE, em maio de 2009. "Se o Rio Grande do Sul vacinar em julho, tudo fica para 2010", diz Camargo.

Santa Catarina, que não vacina há seis anos, já obteve reconhecimento de livre de aftosa sem vacinação da Comissão Científica para Doenças Animais da OIE, em março. Agora, o status sanitário terá de ser confirmado na sessão geral da OIE no dia 20 de maio.

O reconhecimento de Santa Catarina pela OIE deve facilitar o acesso a mercados como o Japão (considerado um passaporte para entrar em outros países), que não compra nem carne bovina e nem carne suína in natura do Brasil.

A decisão de parar de vacinar no Rio Grande do Sul seria acompanhada de outras medidas como vigilância redobrada nas regiões de fronteira com Uruguai e Argentina e nas divisas com os Estados, segundo Camargo Neto. Entre as ações, estaria a proibição de trânsito de animais entre Estados com diferentes status sanitários.

Mas o presidente da comissão de pecuária de corte da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Fernando Adauto, acredita que só em 12 meses, o Estado terá condições de avaliar a eventual suspensão da vacinação. Até lá, diz, o Estado, deverá ter cumprido uma programação com ações de reorganização da defesa sanitária, que incluem a informatização de todas as inspetorias e o treinamento de funcionários de todo o serviço de defesa.

Adauto, assim como o delegado federal da Agricultura no Rio Grande do Sul, Francisco Signor, acredita que o Estado não pode tomar medidas isoladamente.

"A expectativa é caminhar para um dia chegar à suspensão da vacinação. Mas [a suspensão] tem de acontecer também no Uruguai", diz Signor. A justificativa é a grande fronteira seca entre o Estado e o Uruguai, de mais 400 quilômetros. "Sem que haja uniformização dos procedimentos, é difícil suspender a vacinação", acrescenta.

Adauto lembra que o último foco de aftosa no Rio Grande do Sul, em 2001, entrou no Estado pela fronteira com o Uruguai. A origem do vírus foi a Argentina e, naquela ocasião, tanto o Estado quanto o Uruguai haviam parado de vacinar.

Segundo Signor, a previsão para parar de vacinar é 2009, se o Estado seguir avançando nos controles e se não surgir nenhum novo foco de aftosa. Ele espera que até lá seja possível consolidar com o Uruguai um sistema integrado de defesa. O secretário de Agricultura gaúcho, João Carlos Machado, não vê "tempo hábil para parar de vacinar este ano". Ele defende o debate, mas diz que o momento é de foco nos controles.

Camargo Neto, porém, avalia que o Estado deveria liderar o processo e não esperar pelo Uruguai para parar de vacinar. "No momento em que parasse de vacinar, o Rio Grande do Sul poderia convencer o Uruguai a fazer o mesmo". Ele acredita que o país vizinho "não tem pressa de parar de vacinar", pois estaria numa posição cômoda por ter autorização para exportar aos EUA, outro mercado ao qual o Brasil não tem acesso.