Título: Desemprego recua e atinge o menor nível desde 2003
Autor: Martins , Arícia
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2013, Brasil, p. A4

Em 2012, mais pessoas saíram em busca de um emprego, mas a criação de vagas foi suficiente para absorver os novos participantes da força de trabalho e a taxa de desemprego caiu para 5,5%. Esse é o menor nível desde 2003, primeiro ano com dados completos da nova série da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, a População Economicamente Ativa (PEA) avançou 1,7% sobre 2011 - pouco acima da média histórica dos últimos cinco anos, de 1,5% - enquanto a população ocupada subiu 2,2%, variação considerada forte por analistas.

Essa dinâmica também prevaleceu em dezembro, quando a taxa de desemprego recuou de 4,9% para 4,6%, novo recorde de baixa para qualquer mês da série histórica do IBGE. Economistas já esperavam que a desocupação cedesse no último mês do ano, mas viram com surpresa a alta mais acentuada da força de trabalho no período, de 3% ante dezembro de 2011. A avaliação é que, com maior confiança na economia, mais pessoas saíram à procura de uma ocupação, movimento deve continuar a ser observado em 2013 e que reforça a análise de que a atividade está em processo de recuperação.

Segundo Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, não preocupa o fato de o desemprego ter ficado ligeiramente acima do previsto em dezembro, já que o desvio em relação à sua projeção de 4,5% foi causado por crescimento maior que o esperado da PEA na comparação anual. Em relação a novembro, houve retração de 0,4%. "Esse dado é um sinal bom. Trabalhadores que estavam sem procurar uma ocupação estão sendo atraídos novamente pelo mercado de trabalho", diz, num mês em que, devido às festas de fim de ano, o comportamento esperado para a força de trabalho é de fraqueza.

Fernanda Consorte, do Santander, também viu como positivo o aumento anual da PEA. Para a analista, a volta das pessoas à força de trabalho deve ser observada com maior velocidade em 2013, já que a população economicamente ativa tem comportamento pró-cíclico e a atividade irá crescer mais este ano do que em 2012. "As pessoas estão procurando trabalho e estão achando. O crescimento baixo da PEA dos últimos anos é que estava fora do comum", afirmou.

Com maior pressão da entrada de novas pessoas no mercado, Fernanda acredita que a taxa de desemprego pode até subir ligeiramente em 2013 para algo próximo de 6%, mesmo com reação da economia, o que não significa que haverá uma geração ruim de postos de trabalho ou que o emprego irá perder fôlego. "A taxa de desemprego ainda permanecerá em um nível bastante baixo, inclusive abaixo da taxa natural [que não pressiona a inflação], e a população ocupada continuará crescendo nesse ritmo forte", projeta.

A Tendências Consultoria também trabalha com expansão mais alta da PEA em 2013, afirma o economista Rafael Bacciotti, mas ele acredita que, assim como em 2012, a criação de ocupações, sustentada por setores como serviços e construção civil, será mais que suficiente para absorver a oferta maior de mão de obra. Assim, Bacciotti prevê que o desemprego irá recuar levemente este ano, para 5,2%. "Mas se o crescimento não vier e a produção industrial não se recuperar, podem ocorrer demissões nesse setor e a ocupação irá crescer um pouco menos", pondera.

Na visão de Adriana Beringuy, pesquisadora do IBGE, é incorreto afirmar que o país vive situação de pleno emprego, mesmo com a desocupação nas mínimas históricas. "Falar em pleno emprego é simplificar demais as complexidades do mercado de trabalho brasileiro", disse. Isto porque, apesar da queda da taxa média de desemprego, ainda há grandes disparidades entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas: em Porto Alegre, por exemplo, a proporção de desempregados sobre a PEA ficou em 3% em dezembro, enquanto, em Salvador, foi de 5,7%.

O rendimento médio real dos trabalhadores, por sua vez, recuou 0,9% entre novembro e dezembro, para R$ 1.805, mas ainda mostrou alta importante em relação a igual mês do ano passado, de 3,2%. Segundo os economistas ouvidos, é natural que a as remunerações cedam no último mês do ano, quando não há muitas negociações salariais. Além disso, a inflação mais salgada no período também corroeu os salários.

Na média de 2012, porém, a renda real dos ocupados avançou 4,1% sobre 2011, maior crescimento da série mais recente do IBGE nessa comparação. Para os analistas, o baixo desemprego favoreceu ganhos salariais, mas o reajuste do salário mínimo de 7,5% acima da inflação seria a principal explicação para uma alta tão forte da renda. Fernanda, do Santander, calcula que cerca de 30% dos rendimentos da PME têm correlação com o mínimo. Para 2013, economistas trabalham com avanço mais modesto da renda real, já que a correção do piso salarial foi menor este ano.