Título: Planalto queria reduzir poder das ONGs no Ibama
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2007, Brasil, p. A2

As mudanças na estrutura do Ministério do Meio Ambiente atendem a uma antiga expectativa do Palácio do Planalto no sentido de retirar as decisões do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) da influência exclusiva das organizações não-governamentais, consideradas carregadas de sectarismo ambiental. A própria ministra Marina Silva já havia detectado o problema da progressiva radicalização, mas sentia-se desconfortável em contrariar os interesses das ONGs, suas parceiras de longa data na militância ambiental.

A nova configuração do ministério é amplamente favorável a Marina. Os três novos secretários petistas anunciados ontem são ligados à ministra. Hamilton Pereira (SP), Luciano Zica (SP) e Egon Krakhecke (MS) foram escolhas pessoais, com aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do próprio PT. Zica vem do movimento sindical (petroleiros) e deve ser o canal do ministério com a Casa Civil e o Congresso. Atual presidente da Fundação Perseu Abramo, do PT, Hamilton Pereira fará a ponte com intelectuais e parlamentares. Ligado à Igreja católica, é poeta e assina sob o pseudônimo de Pedro Tierra. Egon Krakhecke é ex-vice de Zeca do PT no governo de Mato Grosso do Sul.

Para comandar o Ibama, a ministra elegeu o atual diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Assim, estaria completa a "equipe dos sonhos" da ministra. O PT, no entanto, tem opções partidárias.

Mesmo com a inflexão para uma agenda política mais ampla em detrimento de uma relação quase exclusiva com as ONGs ao longo do primeiro mandato, quem vai dar as cartas nos bastidores do ministério é o novo secretário-executivo, o biólogo paulista João Paulo Capobianco, considerado mais hábil e flexível que seu antecessor, o gaúcho Claudio Langone. Fundador de ONGs como a SOS Mata Atlântica e o Instituto Socioambiental (ISA), Capobianco aumentou seu cacife em batalhas políticas complicadas, como a liberação comercial da soja transgênica no país e as negociações para a reforma da Lei de Biossegurança, temas que dividiram de forma radical o governo.