Título: Resultado reflete perda de competitividade
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2013, Brasil, p. A2

A concentração de registros de importação de combustíveis, feita em 2012, mas só agora contabilizada, explica apenas uma parte, e não a maior, do saldo negativo recorde na balança comercial de janeiro. O que os dados mostram é a confirmação de uma história conhecida: a perda de competitividade da economia brasileira conjugada ao aumento de demanda doméstica, que leva a importações vigorosas, de bens primários como castanha de caju (!) a cosméticos e à queda em exportações de produtos como laminados planos, autopeças e couros.

Não se trata mais apenas de mercadorias chinesas baratas derramando-se pelas fronteiras brasileiras. Em janeiro de 2013, os Estados Unidos passaram a China como maior fornecedor ao Brasil, graças a um aumento de 32% das compras brasileiras de exportadores americanos. Foram US$ 3,35 bilhões "made in USA", US$ 243 milhões a mais do que o Brasil importou dos chineses. Entre os produtos com maior aumento de importação vindos dos EUA estão veículos ferroviários, motores geradores elétricos e aviões.

Os números não mostram, porém, a iminência de nenhum desastre no comércio exterior brasileiro: as exportações, embora cada vez mais com produtos de menor valor agregado, seguem robustas, em nível só superado por 2012, para meses de janeiro. A importação de matérias-primas, bens intermediários e, especialmente, bens de capital, indica aumento de atividade industrial no país, ruim para competidores nacionais, mas bom sinal para quem espera alta dos investimentos.

Os dados acumulados em 12 meses, que diluem efeitos sazonais e acidentes como o do registro de importações de combustível, mostra um quadro de declínio gradual do saldo no comércio exterior: comparando as exportações entre fevereiro de 2012 e janeiro de 2013 com as de fevereiro de 2011 a janeiro de 2012, houve uma queda de 5,3%. Nos mesmos períodos, houve queda nas importações, mas de apenas 1%.

Um grande ponto negativo, no mês, é a alta de 56% das importações de combustíveis, que, ainda que inflado pelas distorções estatísticas, significa prejuízo da Petrobras.

O déficit de US$ 4 bilhões, recorde histórico, foi inflado pelos registros de importação de combustíveis e lubrificantes (US$ 4,1 bilhões, um aumento de US$ 1,5 bilhão em relação a janeiro de 2012). A diferença é quase o valor das importações de combustível feitas em 2012 e só registradas em janeiro: US$ 1,6 bilhão.

Nem tudo é gasolina, porém: tanto as importações de bens de capital quanto a de bens de consumo durável também seguem aumentando a um ritmo robusto, de dois dígitos, e as importações de bens duráveis, não fosse pela queda nas compras de automóveis (32%) provocadas pelo novo regime automotivo, teriam um aumento de 5% em janeiro. O crescimento é significativo em alguns itens: 33% nas importações de partes e peças para bens de consumo duráveis e 17% para objetos de adorno, uso pessoal e outros. As importações de produtos de toucador, como cosméticos, aumentaram 34%, e as de produtos farmacêuticos, 26%.

É incorreta e descabida a interpretação de que a disparidade dos números da Petrobras foi motivada pela contabilidade criativa que contaminou as contas fiscais neste governo, maquiadas para mascarar um desempenho abaixo das expectativas. O governo não estava comprometido com meta de saldo comercial em 2012, nem a diferença provocada pelas mudanças no registro de comercialização de combustíveis mudou o fato de que, contra expectativas negativas do primeiro semestre, houve bom desempenho das exportações e as importações cresceram menos do que se temia no início de 2012. O que incomodou o governo foram as exportações, que ficaram abaixo da meta de US$ 246 bilhões, e a mudança de regras da Receita em nada ajudou ou ajudaria a mascarar essa frustração.

O que merece qualificação é outro item da pauta de comércio exterior, as vendas de manufaturados, alvo de comemoração pelo governo pelo aumento de 1% em janeiro. Mas embora a exportação de veículos traga a boa notícia de uma alta de 53%, os outros produtos de peso entre os manufaturados, com aumento expressivo de vendas, são açúcar refinado (59%), etanol (219%), e suco de laranja (126%). A lista contraria as expectativas de um governo que se diz empenhado em aumentar o valor agregado das exportações.