Título: Alves chega como favorito para Câmara
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2013, Política, p. A4

O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), tenta hoje confirmar o favoritismo diante dos deputados Júlio Delgado (PSB-MG), Rose de Freitas (PMDB-ES) e Chico Alencar (PSOL-RJ) na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. À exceção de Alencar, cuja candidatura tem o objetivo de marcar uma posição contrária ao "establishment político" representada pelas outras, todos iniciam o processo eleitoral às 10h de hoje assegurando chances efetivas de vitória.

Alves aposta sobretudo nas relações políticas que construiu nos 42 anos de mandato eleitoral e no tempo que teve para fazer campanha desde meados do ano passado. Foi nesse período que assegurou apoios oficiais de 20 partidos que representam 460 deputados - 90% da Casa e, principalmente, da presidente Dilma Rousseff. Acredita que vence no primeiro turno. Para isso ocorrer, bastam-lhe 257 votos. A expectativa é a de que o resultado do primeiro turno saia por volta das 13h.

Se o pemedebista obtiver menos que isso, sua situação pode se complicar em um eventual segundo turno. É nessa rodada que Júlio Delgado e Rose de Freitas apostam para chegar à vitória. Tanto que fizeram uma campanha "casada", com contatos diários, avaliações políticas periódicas e um acirramento do discurso ético na reta final, quando Alves se viu atingido por denúncias de irregularidades. Tudo para dividir ainda mais os votos na primeiro turno e apoiar um ao outro na fase seguinte.

A expectativa, porém, é a de que, se houver segundo turno, Alves enfrente Delgado que, aos 46 anos, teve a maior parte de sua vida política justamente no PMDB. Herança do pai, Tarcísio Delgado, ex-prefeito de Juiz de Fora (MG) por três ocasiões e ex-líder do PMDB na Câmara. Em 2001, Júlio migrou para o PPS, onde ficou até 2005, quando se filiou ao PSB.

Naquele ano, foi autor, no Conselho de Ética, do relatório que pediu a cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP), razão pela qual boa parte dos petistas e do governo não o vê com bons olhos. Além disso, é do partido do presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, provável adversário de Dilma nas eleições de 2014 - outro motivo por que o Palácio do Planalto torce para Henrique Alves.

Campos não chegou a mergulhar na campanha de Delgado, mas nunca o desestimulou. Chegou até a aconselhá-lo sobre linhas da campanha e a fazer um ou outro contato. Mas tudo com muita discrição. Não quer ser sócio de uma eventual derrota nem de uma afronta a Dilma.

Rose de Freitas chega como azarona, apesar das contabilidades dos asseclas lhe assegurarem excelente votação, muito acima do que qualquer outro deputado prevê. Carrega consigo a vantagem de ser do PMDB, o que, em tese, assegura o cumprimento do apoio de rodízio com o PT na presidência da Casa, firmado entre os dois partidos em dezembro de 2010. Só que a cúpula pemedebista considera Alves o candidato oficial. Além disso, tal qual Delgado, teve parte de sua trajetória política na oposição. Fundou o PSDB em 1988 e lá ficou até 2003. Trata-se de mais um motivo que reforça o apoio do governo a Alves e seu favoritismo.