Título: Ex-prefeito de Santos explica gravações da PF
Autor: Pires , Fernanda
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2013, Política, p. A8

Áudios da Operação Porto Seguro feitos pela Polícia Federal mostram o ex-prefeito de Santos João Paulo Papa (PMDB) conversando em clima de proximidade com o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) em novembro do ano passado. Papa pergunta se Miranda acha que ele deve "ligar para o Baleia", referindo-se ao presidente do PMDB de São Paulo, o deputado estadual Baleia Rossi. Miranda afirma: "Não, aí é conversa olho no olho e teu sentimento, não dá para falar por telefone, eu acho". Miranda foi denunciado pelo Ministério Público por corrupção em decorrência da Operação Porto Seguro. Ele é apontado como beneficiário do suposto esquema de venda de pareceres por órgãos federais a empresas privadas.

O ex-senador tinha interesse em desenvolver um porto privado na Ilha de Bagres, em Santos. A prefeitura acompanhava os termos das futuras compensações ambientais do projeto, que ocuparia áreas de preservação ambiental permanente. A legislação do município de Santos para compensação é considerada mais rígida que a federal.

Papa afirmou ao Valor que o assunto que tratou com Miranda era relativo à disputa eleitoral no município, e não sobre o empreendimento na ilha de Bagres.

Segundo ele, o termo "olho no olho" referia-se à necessidade de conversar pessoalmente com o presidente do PMDB de São Paulo sobre o clima pós-eleição municipal. Surgiram versões no PMDB santista de que Papa não teria se empenhado suficientemente na campanha do candidato do partido, Sérgio Aquino, facilitando a eleição de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).

"Depois da eleição eu comentei com o Gilberto, que também é político, que tinha ficado um clima ruim no PMDB", afirmou.

No telefonema, Miranda diz a Papa que convidou Baleia e o pai, o ex-ministro Wagner Rossi, para um almoço em seu escritório, em São Paulo, e estende o convite a Papa para uma espécie de desagravo. O encontro ocorreu. "Foi uma conversa amistosa. Fiz o balanço da eleição em Santos, as dúvidas que existiam foram esclarecidas e falamos do futuro."

A assessoria de imprensa do PMDB de São Paulo confirma o encontro e o teor da conversa. Diz que foi uma oportunidade para debater o futuro de Papa - o partido gostaria que ele saísse candidato a deputado federal.

Nas gravações, Miranda sugere também que Papa passe uns dias "na ilha" - o ex-senador tem uma casa na Ilha das Cabras, em Ilhabela (SP). Papa confirmou que conhece Miranda há anos, desde a época em que velejavam juntos. "Não tem nada a ver com o empreendimento em Santos, essa relação é anterior."

Procurado, o advogado de Miranda, Claudio Pimentel, disse que não se manifestará sobre a Porto Seguro, "somente o fará no momento oportuno e no foro competente".

Grampos da mesma operação também captaram uma conversa do atual prefeito de Santos, Paulo Barbosa, com outro denunciado. Quando era secretário estadual de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, o tucano agendou reuniões com representantes do governo paulista a pedido do empresário Carlos César Floriano, então presidente do Tecondi, empresa que explora área da União no porto de Santos. Floriano é denunciado por corrupção ativa por tentar encomendar ao TCU parecer favorável ao Tecondi.

Segundo Barbosa, Floriano solicitou audiência com o presidente da EMTU para conhecer um estudo da empresa "e avaliar eventuais impactos com a cogitada implantação de uma linha de trem na área do retroporto de Santos, o que, se confirmado, poderia causar desemprego na região". Floriano não é doador da campanha de 2012. "Como secretário estadual de Desenvolvimento Econômico Ciência e Tecnologia, Paulo Barbosa manteve contatos com inúmeros empresários e representantes de grupos econômicos nacionais e internacionais para discutir projetos relacionados à manutenção, ampliação e implantação de empreendimentos no Estado de São Paulo", disse em nota.

"A conversa foi para buscar entender qual era o projeto da CPTM e seu impacto", disse a assessoria de comunicação interna do Grupo Formitex, ao qual o Tecondi pertencia.