Título: Encontro com Kirchner tem banco regional e etanol na agenda
Autor: Rocha, Janes e Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2007, Brasil, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega hoje a Buenos Aires, procedente de Santiago, para encontro com o presidente Nestor Kirchner. Segundo fontes da chancelaria brasileira, pelo menos dois temas devem estar na agenda: energia e financeiro.

Acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, Lula terá na sexta-feira um almoço com Kirchner e uma comitiva reduzida, na residência oficial de Olivos. O encontro está sendo definido pela chancelaria como "visita de trabalho". Ou seja, não é uma visita de Estado nem oficial, que implicam protocolos diplomáticos e assinatura de acordos.

A intenção de Lula é envolver a Argentina no acordo sobre etanol com os americanos, oferecendo apoio ao recém-criado programa de biocombustíveis do país. Em fevereiro, o presidente Kirchner sancionou lei que dá incentivos fiscais aos investimentos privados em combustíveis alternativos.

No campo financeiro, Lula pretende desfazer a impressão de que o Brasil é contra a criação do Banco do Sul e tratar de outros temas como a criação do fundo de reservas bilateral para prevenção de crises financeiras.

O governo brasileiro tem mandado sinais confusos sobre o Banco do Sul, proposto pelo presidente da Venezuela, Hugo Chavez, com apoio da Bolívia e do Equador e de grande interesse da Argentina. Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirma que o Brasil quer participar das discussões para formação de um banco de desenvolvimento regional, Garcia nega a intenção de entrar para o projeto.

"Há uma preocupação de não parecer contrário ao banco, mas reafirmar o desacordo com a maneira como o projeto está sendo feito", afirmou fonte do governo. O Brasil não é contrário à criação do Banco do Sul, mas defende que se avalie, primeiro, se as instituições de financiamento regionais já existentes, como CAF e Fonplata, não poderiam ser reativadas. O fundo de reservas é ainda incipiente. Foi levantado pelos presidentes dos bancos centrais do Brasil e da Argentina em dezembro e está em fase de estudos. Trata-se de uma rede de contratos de câmbio, com recursos dos tesouros nacionais, para dar aos BCs um instrumento adicional de combate a ataques especulativos às moedas.

Em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que defenderá na próxima semana uma clara posição do Brasil contra o uso político do Banco do Sul e contra o uso de reservas do país para capitalizar a instituição. Ele vai participar, na quinta-feira, em Quito (Equador), de um encontro com diversos ministros da área econômica dos países da América do Sul. "Primeiro, temos de saber se esse banco é necessário. Depois, quais serão os objetivos dele. Além disso, tem de ser um instrumento regular e claro dentro dos padrões modernos do sistema bancário. Não pode ser instrumento político de ninguém. Tem de ser algo ligado ao Mercosul", argumentou.

Mantega explicou que, na sua visão, as reservas internacionais não são a melhor maneira de capitalizar o banco. "É possível que algum país queira colocar suas reservas. É problema dele", comentou. Para o ministro, se o Brasil considerar adequado o projeto, teria de participar em pé de igualdade com os outros países. O governo já cogitou injetar recursos do BNDES na Corporación Andina de Fomento (CAF), mas não definiu a questão.