Título: Dez indicações e um PMDB encolhido
Autor: Pariz,Tiago ; Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2010, Politica, p. 2

Presidente eleita divulga os responsáveis por uma dezena de pastas em seu governo e confirma que o partido do vice-presidente terá menos influência na Esplanada em relação à gestão de Lula

A presidente eleita, Dilma Rousseff, diminuiu a envergadura e a influência do PMDB em seu governo ao confirmar 10 nomes para a Esplanada dos Ministérios (veja quadro). Instalou o partido em pastas periféricas, com menos dinheiro público para investir. Fez os peemedebistas perderem cargos importantes no segundo e no terceiro escalões da administração pública e limitou a influência da legenda na negociação com municípios dos grotões do país, justamente onde reside a força do aliado.

O único alento é o Ministério do Turismo. Com a Copa Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, a pasta será vitrine. O ministério, aliás, é campeão de apresentação e execução de emendas parlamentares ¿ recursos que deputados e senadores sugerem no Orçamento para investir em suas bases. Hoje, essas emendas são alvo de suspeitas com as denúncias de que o senador Gim Argello (PTB-DF), ex-relator do Orçamento, colocou dinheiro público em empresas de fachada e usou notas de empresas que não funcionam nos locais registrados para justificar gastos com verba indenizatória (leia nas páginas 5 e 7).

O indicado para a pasta, o deputado Pedro Novais (PMDB-MA), coincidentemente, tem larga experiência na Comissão de Orçamento. É um veterano que já integrou o órgão pelo menos 14 vezes. É indicado pelo líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves e aliado político do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O senador emplacou outros dois ministros, como antecipou o Correio: Edison Lobão (PMDB-MA), que volta ao Ministério de Minas e Energia, e Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), na Previdência Social. Os outros peemedebistas na Esplanada são Wagner Rossi, na Agricultura, indicado pelo vice eleito, Michel Temer, e o ex-governador do Rio Moreira Franco, para a Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Com esse desenho, os peemedebistas perdem o controle da Saúde, das Comunicações e da Integração Nacional. Vão para a mão de petistas e de outros partidos aliados cargos de segundo e terceiro escalões espalhados em órgãos como Defesa Civil, Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco, Correios, Telebras, além de superintendências da Amazônia, do Nordeste, do Centro-Oeste e o Departamento Nacional de Obras contra a Seca. Todas essas estruturas são fontes de investimento em municípios e demandas de prefeitos.

Sem os cargos mais polpudos da administração pública, peemedebistas procuraram o vice eleito para protestar. Temer, no entanto, atuou como bombeiro, dizendo que ¿está de bom tamanho a cota do PMDB¿. José Sarney discordou. ¿Eu sempre devo achar que o PMDB é tão grande que eu nunca vou achar que (o espaço) é de bom tamanho¿, disse.

Habilidade Além da insatisfação por cargos, Dilma desagradou parte da legenda, sem, no entanto, transformar isso em problema. Ao nomear dois políticos do Maranhão, não contemplou feudos importantes, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Peemedebistas mineiros ameaçaram fazer oposição ao governo da petista. A jogada de Dilma, no entanto, não foi atabalhoada. Ela percebeu que para agradar o partido não é preciso fazer uma negociação com cada liderança. Basta agradar caciques pontuais para a legenda se aquietar. Agradou Sarney, Renan Calheiros (PMDB-AL), Temer e Henrique Eduardo Alves.

Justamente essas lideranças ofereceram ontem um jantar em homenagem a Luiz Inácio Lula da Silva na residência do deputado Eunício Oliveira (CE), no Lago Sul. O presidente recebeu os agradecimentos pelo espaço que concedeu aos aliados em sua gestão e pediu paciência. Disse que na divisão de poder entre dois grandes partidos há sempre pedras no sapato. ¿Mas isso a gente vai resolvendo devagar, tirando uma a uma¿. Segundo Lula, foi graças ao apoio do PMDB que Dilma conseguiu uma votação maior que a dele em sua primeira eleição vitoriosa, em 2002. ¿O partido recebeu um tratamento compatível com o tamanho que tem. Ninguém aqui tem nada a reclamar¿, disse Michel Temer. Esperada no jantar, Dilma não compareceu.

Colaborou Izabelle Torres

Tudo igual nas estatais

Rosana Hessel

Dilma Rousseff não deverá mexer no comando das estatais durante o primeiro ano de mandato. Com isso, José Sergio Gabrielli continuaria no comando da Petrobras em 2011, como vinha sendo cotado desde a vitória nas urnas da candidata petista. As estatais elétricas também não sofrerão alterações no quadro no próximo ano. O mesmo deverá acontecer com a Caixa Econômica Federal, que continuará sob o comando de Maria Fernanda Ramos Coelho. Já no Banco do Brasil há dúvidas se Aldemir Bendine permanecerá no cargo.

A volta do ex-ministro e senador Edison Lobão (PMDB-MA) para o Ministério das Minas e Energia (MME), pasta que já foi comandada por Dilma, era esperada pelos empresários do setor elétrico. O senador é bem visto pelos executivos devido ao grande poder de articulação. Eles também apostam fortemente que Lobão mantenha a seu lado o atual ministro da pasta, Márcio Zimmermann, como secretário executivo. O engenheiro elétrico catarinense, funcionário público de carreira, é muito bem visto pelos especialistas, especialmente pelo conhecimento técnico acumulado no setor de energia. Os dois são considerados complementares na pasta.

Tráfego Lobão transita muito bem no meio político, tanto na base aliada quanto na oposição. Isso é visto como uma qualidade para um ministro de uma área tão estratégica como é a de Minas e Energia e que demandará muitas mudanças no próximo governo.

O convite informal para Zimmermann voltar ao antigo cargo já foi feito por Lobão em um telefonema. O interesse do engenheiro é ficar mais perto da família, que mora em Florianópolis (SC) e, possivelmente, voltar para onde ele começou a carreira, na década de 1980, a Eletrosul. No entanto, com a sinalização de que Dilma não irá trocar o comando das estatais, não haveria porque o atual ministro não aceitar o convite de Lobão.