Título: Embate lançado com estratégia
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 09/12/2010, Politica, p. 9

Rodrigo Maia reduz o seu mandato na Presidência do Democratas para evitar uma sucessão antecipada comandada por outra ala do partido. O deputado culpou Serra pela situação da legenda

Os principais caciques do DEM decidiram recolher armas e marcaram um novo embate para março, quando deve ser eleito um novo presidente para a legenda. Antevendo a implosão iminente, o atual presidente do partido, Rodrigo Maia, decidiu abrir mão de parte do mandato, que se encerraria em dezembro de 2011, e antecipou as eleições internas. Antes de abandonar o controle, no entanto, abriu o verbo contra o candidato derrotado à Presidência José Serra (PSDB), a quem acusa de ter conduzido uma campanha ¿desastrosa¿.

A saída de Maia foi anunciada em uma reunião de 15 minutos, realizada ontem, na sede do partido no Congresso Nacional. Ao sair, o deputado fluminense admitiu que os fracos resultados nas urnas provocaram pressões incontornáveis de aliados para que ele deixasse a Presidência. ¿Tivemos uma candidatura (de Serra) desastrosa no primeiro turno, que não agregou nada nem ninguém.

O candidato só ouvia o seu marqueteiro. Quando a eleição a presidente vai mal, tudo degringola¿, disparou Maia. ¿Esperávamos que ele tivesse ao menos um desempenho superior ao de Alckmin em 2006, até pelo seu estofo político, o que não aconteceu¿, completou.

Com a manobra de Maia, o grupo do deputado federal conseguiu reverter, em partes, o quadro negativo que se desenhava. Até o início da reunião, a parcela do partido capitaneada pelo ex-senador Jorge Bornhausen e pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não escondia a intenção de demover Maia do cargo ¿ o que provocaria um racha imediato na sigla. Ao antecipar as eleições para março, os dois grupos terão quatro meses de disputa conflagrada pelo controle da legenda. ¿Basicamente, ele tomou uma atitude para entregar o partido da mesma forma como a que o recebeu: unido¿, resumiu o líder da legenda na Câmara, Paulo Bornhausen (DEM-SC).

A renúncia de Maia a parte do mandato foi decidida na noite de terça-feira. Depois de ouvir aliados próximos, como os deputados Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA) e José Carlos Aleluia (DEM-BA), e rivais na disputa pelo controle do partido, como o senador José Agripino Maia (DEM-RN), o deputado fluminense admitiu que a permanência na Presidência era impossível. Ao abdicar do posto, decidiu marcar para março a data das eleições internas, mês em que Kassab já tinha planejado migrar para o PMDB.

Em tese, a nova data enfraquece a movimentação do prefeito no intuito de influenciar a sucessão no partido. ¿A decisão que eu tomei dá total conforto para que ele permaneça na legenda¿, afirmou Maia. Embora o grupo de Bornhausen já tenha elegido Agripino o candidato de consenso à Presidência do partido, a parcela ligada a Maia tem um outro nome, ainda não revelado, escolhido para representar o grupo na eleição de março.

O deputado descarta participar do pleito, mas o aliado ACM Neto não refuta a hipótese: ¿Qualquer quadro estatutário está apto a participar da disputa.¿