Título: Grupo de Sarney mantém o poder, mas agrega novos interlocutores
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2013, Política, p. A10

A eleição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a presidente do Senado, na sexta-feira, dia 1º, mantém o grupo de José Sarney (PMDB-AP) no comando da Casa, mas o poder de decisões terá de ser compartilhado com novos protagonistas. Senadores do PMDB que assumiram em 2011 com atuação mais independente desse núcleo ampliaram seu espaço político com a escolha de Eunício Oliveira (CE) para líder do partido, o maior do Senado (20 integrantes).

O Palácio do Planalto apoiou, nos bastidores, Eunício e articulou para evitar que Romero Jucá (PMDB-RR) fosse indicado líder do Bloco da Maioria, que reúne PMDB, PP (cinco senadores) e PV (um). Durante negociação da presidência, houve acordo para desmembrar as duas lideranças, então acumuladas por Renan.

O senador cearense, que presidia a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e pretende disputar o governo do seu Estado em 2014, reagiu e recusou o acordo. Percebeu que, na prática, se tornaria "vice-líder" de Jucá, próximo de Renan e Sarney. Jucá ameaçara disputar a liderança da bancada no voto, caso não ficasse com o comando da Maioria.

A reação de Eunício - cujos aliados chegaram a admitir a possibilidade de disputa com Renan a presidência da Casa - foi amparada por articulação do Planalto, via ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM). O argumento formal para o fracasso do acordo foi o impedimento regimental, que seria contornado facilmente, se houvesse acordo.

Para evitar que um racha da bancada prejudicasse a eleição de Renan - já sob pressão externa de críticas e da apresentação da denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel - Jucá cedeu aos apelos de Renan e Sarney para recuar. Ele aceitou ser 2º vice-presidente da Casa e vice-líder da bancada.

Após um ano de gestão, a presidente Dilma Rousseff substituiu Jucá na liderança do governo por Braga (PMDB-AM). Nesse movimento, Eunício recebeu apoios de outros senadores que se dizem "independentes". A constatação de que a bancada dos novatos estava aumentando seu espaço de poder no Senado facilitou a decisão do grupo a votar em Renan. Ex-presidente da Casa por duas vezes - 2005 a 2007 e eleito novamente em 2007, ele renunciou ao cargo meses depois, por causa de processos por quebra de decoro parlamentar, dos quais foi absolvido pelos colegas.

Renan foi eleito com 56 votos. O adversário Pedro Taques (PDT-MT) recebeu 18 votos, apesar do apoio recebido pelas bancadas do PSDB, do PSB, do PSOL, do presidente nacional e líder do DEM, José Agripino (RN), e de dissidentes de outros partidos, como os pemedebistas Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) e o colega do PDT Cristovam Buarque (DF). Houve dois votos nulos e dois em branco.

A eleição para presidente do Senado é secreta. Taques recebeu menos votos do que os adversários de Renan calculavam (de 20 a 25). A vitória foi facilitada pelos acordos com os partidos pela divisão dos cargos da Mesa Diretora. Até o PSDB, que anunciou oposição à sua eleição, manteve o cargo de primeiro secretário, ao qual tem direito pela regra da proporcionalidade partidária. O tucano Flexa Ribeiro (PA) foi confirmado no plenário.

Foram eleitos para a 1ª e 2ª vice-presidências, respectivamente, Jorge Viana (PT-AC) e Jucá. Para a 1ª, 2ª e 4ª secretarias, foram eleitos Flexa, Ângela Portela (PT-RR) e João Vicente Claudino (PTB-PI). Após disputa para a 3ª secretaria, Ciro Nogueira (PP-PI) venceu Magno Malta (PR-ES). O capixaba aceitou uma vaga de suplente. Para as outras três, foram eleitos Jayme Campos (DEM-MT), João Durval (PDT-BA) e Casildo Maldaner (PMDB-SC).

Nos próximos dias, será a eleição dos presidentes das 11 comissões permanentes da Casa, vagas também preenchidas pela regra da proporcionalidade partidária. As mais importantes, de Constituição e Justiça (CCJ) e de Assuntos Econômicos (CAE), devem ser presididas, respectivamente, por Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Lindbergh Farias (PT-RJ).