Título: País conseguiu ajuste das contas públicas em 2006
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2007, Especial, p. A16

Do ponto de vista macroeconômico, as mudanças ocorridas na Bolívia desde a posse de Evo Morales são extraordinárias. O economista Gonzalo Chavez, da Universidade Católica Boliviana, em La Paz, diz que o país teve um "choque externo" de renda em 2006. A exportações, que nunca passaram de US$ 1,8 bilhão na década de 90, passaram para US$ 4,2 bilhões.

Em 2006 o PIB da Bolívia cresceu 4,5% - contra 1,68% em 2001 e 4,06% em 2005 - , chegando a US$ 10 bilhões. As reservas internacionais atingiram US$ 3,17 bilhões, contra US$ 1,7 bilhão em 2005. A balança de pagamentos encerrou o ano com saldo de US$ 1,3 bilhão, um salto em relação aos US$ 634 milhões de 2005. E, pela primeira em cinco anos, o setor público teve superávit primário de US$ 528 milhões, equivalentes a 5,05% do PIB, revertendo déficit de 2,3% de 2005.

Para Gonzalo Chávez, o maior problema para a Bolívia no médio e longo prazos, que ele considera uma "questão aberta", é se os investimentos em exploração e produção de gás e petróleo serão suficientes para atender os atuais mercados, ou seja, Brasil e Argentina. E a grande pergunta é se os novos contratos criarão um reequilíbrio entre o governo e as empresas.

"Enquanto o preço [do petróleo] estiver alto e houver déficit energético no Brasil e na Argentina, os problemas ficarão em segundo plano", diz, lembrando que apesar das ameaças de levar a Bolívia a arbitragem internacional feitas pelas empresas, nada aconteceu. "Se as transnacionais estão no Iraque, porque não na Bolívia?"

Um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) apresentado na semana passada em La Paz, na presença do vice-presidente Álvaro Garcia Linera, mostrou uma pesquisa em que 70% da população acha que está melhor hoje, o que, segundo o economista e antropólogo George Gray Molina, coordenador do Pnud na Bolívia, "é diferente do discurso do conflito".