Título: Título prefixado ganha espaço
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2007, Finanças, p. C4

Não fosse pela estratégia agressiva de colocação de "swaps" cambiais pelo Banco Central, os títulos prefixados teriam se tornado dominantes na dívida mobiliária interna em março, ultrapassando os papéis indexados à taxa Selic pela primeira vez desde a crise da Rússia, ocorrida em 1998.

Dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional mostram que, ignorando os "swaps" cambiais, os títulos prefixados equivaliam em março a 37,3% da dívida mobiliária interna, ante uma participação de 36,5% dos papéis vinculados à taxa Selic. Mas, se os "swaps" entrarem na conta, o quadro se modifica: os títulos indexados à Selic sobem para 38,8%, percentual superior ao dos prefixados, de 37,3%.

Os papéis pós-fixados pela Selic são herança da inflação alta e da indexação. Desde o Plano Real (1994), o Tesouro vem procurando reduzir o volume desses papéis, que deixam as conta públicas vulneráveis a altas do juros básico. Já os papéis prefixados deixam o governo mais protegido contra flutuações do juro. Nos primeiros anos do Real, o Tesouro teve algum sucesso em reduzir a dívida pós-fixada, tornando a prefixada dominante. Choques de juros promovidos pelo BC em 1997 e 1998, nas crises da Ásia e da Rússia, causaram perdas ao mercado - e afastaram os investidores dos títulos prefixados. Após a desvalorização do real, em 1999, o Tesouro teve novos progressos, mas a crise de 2002 trouxe novo retrocesso. Desde de 2003 os títulos prefixados vêm aumentando.

No período, o trabalho do Tesouro tem sido dificultado pelos "swaps" cambiais reversos vendidos pelo BC. Nessas operações, o BC recebe dos investidores a variação do dólar e paga a taxa Selic. No princípio, o BC dizia que essas operações se justificavam para reduzir a exposição cambial da dívida pública. Mas, desde janeiro de 2006, a exposição cambial da dívida foi eliminada - e o governo se tornou credor em dólar. Quando isso ocorreu, o BC parou de fazer "swaps" reversos. Na semana passada, porém, anunciou a retomada dos leilões. Embora a autoridade monetária negue, o principal objetivo agora tem sido evitar uma maior apreciação da taxa de câmbio.

O coordenador de operações da dívida pública do Tesouro, Guilherme Pedras, disse que, como em abril há um grande vencimentos de papéis prefixados, é possível que a participação desses papéis na dívida total volte a cair.

Os outros títulos que têm peso importante na dívida, considerando os "swaps", são os indexados a índices de preços (22,7%), taxa referencial (2,35%) e câmbio (o governo tem uma posição ativa em dólar equivalente a 1% da dívida mobiliária interna). Sem os "swaps", em fevereiro os papéis prefixados respondiam a 35,4% da dívida, e os pós-fixados , a 38,4%. Em março, a dívida mobiliária aumentou 2,02%, chegando a R$ 1,143 trilhões, em virtude da emissão de R$ 10,5 bilhões de novos papéis e da apropriação de R$ 12,1 bilhões em juros à dívida. No mês, foram resgatados R$ 41,8 bilhões da dívida interna (72,32% papéis vinculados à Selic) e emitidos R$ 52,3 bilhões (61,8% prefixados).