Título: Queda na produção de bens de capital não é bom sinal
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Fonte: Valor Econômico, 05/02/2013, Opinião, p. A12

Apesar dos estímulos distribuídos pelo governo, a indústria teve um desempenho decepcionante em 2012. A produção industrial caiu 2,7%, o pior resultado desde o tombo de 7,4% em 2009, ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 0,6%, no auge do impacto da crise internacional na economia brasileira.

A desoneração da folha de pagamentos, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o corte dos juros, o aumento da oferta de crédito e a desvalorização cambial não foram suficientes para reanimar a indústria, que havia crescido apenas 0,4% em 2011. Nos raros setores em que ocorreu, a recuperação foi errática e não contagiou outras áreas.

Estoques elevados, dificuldade para exportar, queda na confiança do empresariado, além do alto endividamento e da inadimplência das famílias afetaram a produção industrial. O desempenho decepcionante da indústria em 2012 alimentou as previsões pessimistas para a economia daquele ano e também as deste ano. A indústria tem um peso de 27,5% no PIB.

A indicação mais negativa foi a queda de 11,8% na fabricação de bens de capital, o que aponta investimentos fracos pela frente, embora tenha havido alguma importação. Os investimentos não mostram sinais de retomada e devem ter completado em 2012 seis trimestres seguidos de queda.

A queda de 36,2% na fabricação de caminhões e ônibus, que fazem parte dos bens de capital, teve grande influência. A produção de caminhões despencou com a introdução obrigatória de novos motores com tecnologia menos poluente e mais cara a partir de 2012, o que levou a uma onda de antecipação de compras no fim de 2011, criando uma base mais elevada de comparação e esvaziando a demanda do ano passado.

A fim de reativar a demanda, o governo baixou os juros da linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o financiamento de caminhões e permitiu sua depreciação acelerada, reduzindo o imposto a pagar. Mas o resultado desses incentivos foi fraco.

Houve também recuo na produção de outros tipos de bens de capital, como material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicação, 13,5%; e de máquinas e equipamentos, 3,6%. A única exceção foi nos bens de capital para a agricultura, que fechou o ano com crescimento de 3,5%.

O desastre no setor de caminhões também foi responsável pela queda de 13,5% da produção de veículos automotores - setor que tem peso de 11% na indústria -, o pior resultado desde 1998, quando desabou 19,3%. Fazem parte desse grupo os automóveis, cuja produção fechou o ano em queda de 1%, apesar da reação no segundo semestre, após a redução do IPI e a facilitação do financiamento. A fabricação de automóveis aumentou 8,5% no terceiro trimestre e 11,4% no quarto, mas não compensou o mergulho do início do ano, de 18,6% no primeiro trimestre e 2,9% no segundo.

Há o receio, com fundamento, de que a retirada gradual do benefício fiscal e o endividamento elevado das famílias possam levar a nova desaceleração na fabricação de veículos, o que também pode acontecer com os eletrodomésticos da linha branca. Ruim com eles, pior sem eles.

Um fato positivo é a redução dos estoques elevados, que influenciaram negativamente o desempenho de vários setores em 2012. De acordo com levantamento da FGV, os estoques caíram no segmento de bens duráveis, mas estão ainda elevados em bens de capital. Outro fator positivo é o aumento das consultas por crédito junto ao BNDES.

O consumo doméstico continua avançando, com emprego e salários elevados. Mas isso não é garantia para a indústria nacional porque a demanda tem sido em parte atendida pelos importados dada a baixa competitividade nos produtos domésticos causada pelas distorções tributárias, logísticas e mão de obra cara. O desempenho deste ano vai depender da solução de vários desses problemas antigos. A desoneração da folha de pagamento e a redução do custo da energia vão nessa direção, mas estão longe de representar uma solução definitiva para os problemas de competitividade da indústria nacional. Setores pioneiros na desoneração da folha tiveram desempenho ruim, como demonstram a indústria de vestuário, cuja produção diminuiu 10%, e o de calçados, que caiu 3,6%.