Título: FMI elogia combinação de políticas do país
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2013, Finanças, p. C7

A combinação da política monetária com as medidas macroprudenciais adotadas pelo Brasil no pós-crise mostrou-se apropriada para atingir dois objetivos, a estabilidade de preços e a financeira, de acordo com relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o documento, a experiência do país no período que se seguiu à turbulência global, agravada pela quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, "ilustra bem a relação complementar entre as duas políticas".

Para o FMI, a política monetária teve como foco assegurar a estabilidade de preços, enquanto os instrumentos macroprudenciais foram utilizados para conter a potencial formação de riscos sistêmicos decorrentes do rápido crescimento do crédito. "O mix de política foi efetivo em administrar a demanda agregada e as pressões inflacionárias, assim como em reduzir o ritmo de crescimento do crédito", afirmam os economistas da instituição, num comentário sobre o período entre a primeira metade de 2010 e meados de 2011.

A análise aparece num relatório de apoio a um documento do conselho do FMI intitulado "A interação entre as políticas monetária e macroprudencial".

Na parte referente ao Brasil, os economistas do FMI dizem que o BC brasileiro mudou as exigências de depósitos compulsórios dos bancos com frequência, "para administrar ciclos de crédito de um modo contracíclico". O Brasil passou por um avanço muito forte do crédito desde 2004, quando o total de empréstimos e financiamentos era de apenas 24% do PIB - em 2012, o número atingiu 51% do PIB. Essa expansão ajudou o crescimento e a inclusão financeira, mas trouxe riscos, especialmente para as famílias. O nível de endividamento cresceu, assim como o nível de inadimplência.

Logo depois da eclosão da crise, o BC brasileiro relaxou compulsórios, para evitar uma contração de crédito. A partir de então, a autoridade usou níveis de depósitos mais apertados como "limites de velocidade" para desacelerar o crescimento geral do crédito, junto com outras medidas com foco em empréstimos com desconto em folha de pagamento e no financiamento de veículos. Requerimentos de capital para novos empréstimos à pessoa física foram apertados em dezembro de 2010. Em novembro de 2011, quando a atividade estava mais fraca, foram um pouco relaxadas.

Segundo o FMI, aumentos nos compulsórios mostraram-se efetivos, de modo temporário, em elevar os spreads bancários e reduzindo o ritmo do crédito. Cálculos recentes do FMI mostram que as respostas a um choque de 1% na média ponderada dos depósitos compulsórios sugerem uma desaceleração na expansão do crédito moderada, mas transitória. O documento mostra ainda que, depois das medidas de dezembro de 2010, a taxa de expansão de empréstimos e financiamentos para pessoa física caiu 11 pontos percentuais, de 22% em dezembro de 2010 para 11% em dezembro de 2011. "E a proporção de financiamento de veículos com duração superior a 60 meses no total caiu cerca de 20 pontos percentuais".

Para o Fundo, o Brasil usou a política monetária de modo contracíclico depois da crise. Em resposta à inflação ascendente e ao ritmo da recuperação da atividade, o BC elevou a Selic em 2 pontos percentuais em 2010, e depois em 1,75 ponto na primeira metade de 2011, somando uma alta de 3,75 pontos. Mas, com a deterioração global, a Selic foi reduzida com força recentemente, num total de 5,25 pontos percentuais.

Por fim, o documento afirma que, no Brasil, como a recuperação rápida que se seguiu ao agravamento da crise, em setembro de 2008, ocorreu simultaneamente à expansão forte do crédito, especialmente para a pessoa física, a política monetária e a macroprudencial "pareceram complementares".