Título: Atuação do Banco Central no mercado de câmbio leva incerteza a exportadores
Autor: Pedroso, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2013, Brasil, p. A3

A atuação do Banco Central no mercado de câmbio, na segunda-feira, trouxe incertezas para os setores exportadores. Um câmbio mais próximo de R$ 1,95 a R$ 2,0, dizem os empresários, ainda pode ajudar. O problema é a incerteza.

A possibilidade de uma nova valorização do real pode deixar o empresário "mais na retranca" na hora de pensar em aumentar os planos de exportação, segundo Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex). "O câmbio como estava não mudou o cenário das exportações têxteis, mas trouxe perspectiva futura de melhora na competitividade do setor. Agora essa expectativa muda, pois fica mais difícil prever a direção do dólar", afirma.

A Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) vê como algo natural a atuação do Banco Central no câmbio. Para o diretor-executivo Diogo Serafim, a valorização do real não muda as projeções para o comportamento do setor neste ano. No modelo utilizado pela associação, o dólar ficava entre R$ 2 e R$ 2,05. "Ao mesmo tempo em que o câmbio foi utilizado como incentivo às exportações no ano passado, agora ele passa também a ser usado para controlar a inflação. É muito cedo para que se configure uma mudança nos rumos da política econômica nesse sentido", diz.

A preocupação maior é que o dólar fique abaixo de R$ 1,90. A Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) vê como "desastroso" para a indústria um real mais forte. Segundo Mario Bernardini, assessor econômico da associação, a desvalorização cambial de 17% ocorrida ao longo de 2012, foi solapada em parte pela inflação de 5,8% registrada no ano. "Se a valorização do real for uma tendência, a indústria desiste de produzir a vai passar importar livremente, pois o produtor já tem uma série de problemas para ficar competitivo no mercado externo."

Bernardini, no entanto, não acredita que a autoridade monetária esteja visando a inflação com a atuação no mercado. Segundo ele, a ação de segunda-feira foi uma medida mais pontual. Primeiro, porque uma valorização de cinco ou dez centavos não seria suficiente para baixar a inflação, e segundo porque essa mudança desestimularia o exportador e causaria insegurança no setor produtivo, já que a tônica durante todo o ano passado foi a de utilização do câmbio como instrumento para melhorar as condições de produção.

"Haveria uma forte sensação de que não vale a pena investir no Brasil, e isso frustraria o governo, que espera retomada dos investimentos. Por outro lado, para segurar a inflação com eficiência, o câmbio tem que cair para R$ 1,60. Isso seria um desastre para a produção", afirma Bernardini.

A RC Consultores, por sua vez, acredita que uma atuação mais ostensiva do BC vai acontecer apenas até o efeito da energia elétrica mais barata ser amortecido pela economia. "O Banco Central e o governo estão tentando impedir extremos: pressão forte de alta na inflação e diminuição drástica do superávit comercial. No momento, a dor de cabeça mais aguda é a inflação, por isso a atuação, que deverá ser de curto prazo", afirma Fabio Silveira.

O preço do dólar, contudo, não deve ficar abaixo de R$ 1,95. "Não acredito que o real vai se valorizar mais do que isso, porque senão o governo vai reavivar outra dor de cabeça, que é o saldo comercial. Esse patamar de câmbio está perto do mínimo. Abaixo disso fica muito difícil exportar", diz.