Título: Medida ajuda, mas desafios persistem
Autor: Schüffner, Cláudia; Polito, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2013, Brasil, p. A4

Apesar de bem-vindo, o reajuste dos combustíveis não resolve o descompasso que existe entre o caixa da Petrobras e sua necessidade de investimentos. A estatal é uma das empresas com maior volume de novas descobertas de petróleo entre seus pares internacionais e tem reservas suficientes para sustentar o consumo do Brasil por 18 anos. Mas isso não tem sido suficiente para enfrentar os colossais desafios que se apresentam.

As perdas da área de refino com o subsídio dos preços da gasolina e do diesel devem ser maiores que o lucro de 2012 - são estimadas em cerca de R$ 25 bilhões. A companhia deve divulgar na segunda-feira uma queda de 2% na produção de petróleo em 2012 provocada pela impossibilidade de produzir em seus campos gigantes da bacia de Campos ao mesmo tempo em que precisava garantir as áreas do pré-sal da bacia de Santos.

Uma nova fonte de preocupação é o leilão de áreas sob o regime de partilha de produção, o primeiro do país, marcado para os dias 28 e 29 de novembro. Se um campo do porte de Libra, que ainda é da União, for oferecido para a partilha de produção, a Petrobras, e quaisquer que sejam seus sócios, poderão ter que desembolsar até US$ 10 bilhões. Nesse novo regime, a companhia terá que ser operadora da área com um mínimo de 30%.

Por fim, a própria política de preços da companhia segue como um desafio. A Petrobras reiterou ontem que seguirá a prática "que busca alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado internacional em uma perspectiva de médio e longo prazo".

A lógica dessa política é que a Petrobras pode praticar preços mais baixos que os internacionais durante um tempo, como faz agora, mas que isso é compensados por preços superiores aos de mercado num outro período - como ocorreu no auge da crise internacional, em 2009. No longo prazo, o ágio e o deságio ante a cotação internacional deveriam se ajustar.

Ocorre que a Petrobras passou a ter prejuízos seguidos e bilionários na área de abastecimento no segundo trimestre de 2011, depois que Brent passou da linha de US$ 100 por barril, de onde nunca mais saiu. E a situação foi agravada pela alta do dólar.

Para que a política de longo prazo da empresa esteja correta, esses prejuízos precisam ser compensados em algum momento. Mas alternativas para isso fogem ao controle da companhia.

A primeira é reajustar ainda mais os preços, para níveis acima dos cobrados internacionalmente, para recuperar as perdas. Isso é praticamente impossível, diante do impacto que as elevações teriam na inflação.

Outra opção é "torcer" para que o petróleo caia substancialmente no mercado internacional - algo que pode ser desejável no curto prazo, mas que parece contrassenso para uma petrolífera.

Por fim, uma queda do dólar, como a baixa de 2,12% que ocorreu nos últimos dias após movimento do Banco Central, também beneficia a companhia, já que diminui o preço dos derivados em reais, reduzindo a defasagem em relação aos preços internacionais. Sobre esse ponto, resta saber em quanto o governo quer apreciar o real.