Título: Pesquisa mostra efeito eleitoral sobre popularidade
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2007, Opinião, p. A16

Um processo eleitoral acirrado e uma estratégia da oposição excessivamente agressiva deram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apenas uma reeleição tranqüila no segundo turno, em outubro passado, como a terceira melhor avaliação de seu governo na pesquisa CNT-Sensus divulgada ontem. Apesar do "apagão aéreo" - que, aliás, é do conhecimento de 82% dos entrevistados - e de uma percepção de queda na qualidade dos serviços essenciais, níveis de renda, saúde, educação e segurança (uma "cesta" de variáveis designada pela pesquisa de Índice do Cidadão) por 44,48% dos entrevistados, o desempenho de Lula foi ainda melhor avaliado do que o do seu governo. Ele obteve um índice de aprovação de 63,7%, contra 59,3% em agosto de 2006 e 66,1% em fevereiro de 2005.

A avaliação do governo federal foi a terceira melhor desde janeiro de 2003: 49,5% consideraram positivas as ações do governo. A melhor foi obtida em janeiro de 2003, quando o governo Lula recebeu avaliação positiva de 56,6% dos entrevistados. A segunda melhor foi em maio daquele mesmo ano, quando obteve a aprovação de 51,6%.

O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, atribui essa avaliação positiva do governo e de Lula ao carisma pessoal do presidente, mas há também outros fatores a serem considerados.

Em primeiro lugar, ele ainda desfruta do prestígio das urnas. Além disso, um processo eleitoral excessivamente exacerbado teve um efeito colateral para a oposição: obrigou o presidente, em disputa pelo segundo mandato, a expor todo seu potencial carismático. Isso também foi possível graças ao descolamento de Lula do Partido dos Trabalhadores (PT): pela primeira vez em cinco disputas eleitorais, o Luiz Inácio Lula da Silva não era simplesmente o candidato do PT à Presidência da República, mas o operário que, por méritos próprios, chegou ao cargo máximo da carreira pública e, com uma política voltada para a área social mais eficiente, mostrou que não traiu a sua origem.

Esse é o legado que Lula traz para justificar, quatro meses após o início do seu segundo mandato, uma popularidade nesse nível. É de se lembrar, no entanto, que essa "sobra" eleitoral da qual desfruta, por mais carismático que seja, não é impermeável a crises políticas e à qualidade da gestão pública. E a vagareza com que se deu ao luxo de montar o ministério, a brecha que abre para negociações pouco republicanas na hora em que recua da decisão de prover todos os cargos de confiança com funcionários públicos de carreira, a falta absoluta de agilidade para resolver o gargalo do controle aéreo porque envolve áreas militares, e até a dificuldade para implantar as medidas previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - tudo isso reúne um potencial de crise que, se não resolvido logo e a contento, poderá tirar do campeão de popularidade vários pontos.

É de se lembrar que, mesmo com todo o carisma do presidente, os entrevistados pelo CNT-Sensus mostram uma visão altamente crítica dos problemas cruciais do país. Um impressionante contingente de 99,9% dos entrevistados considera que a violência aumentou nos últimos anos e 24,1% deles atribuem isso à pobreza e à miséria - somente depois são apontados outros fatores, como Justiça falha, tráfico de drogas, leis brandas, corrupção policial ou falta de policiamento. Não é desprezível também o número de entrevistados que considera o desemprego o maior problema do país: 26,3%, seguidos de 18,2% daqueles que acham que o problema é a segurança pública e outros 25,7% que consideram a saúde pública dessa forma.

No início de segundo mandato, com uma imensa popularidade e com o enorme apoio que uma coalizão de 11 partidos lhe oferece na Câmara, será difícil imaginar que, na hipótese de a oposição conseguir instalar a CPI do Apagão, o presidente possa sofrer um grande desgaste político nesse momento. Mas a briga pública do PT e do PMDB por cargos importantes do segundo escalão do governo deixam, no mínimo, dúvidas sobre se o carisma de Lula segura essa onda, com essa popularidade, durante um tempo razoável do segundo mandato.