Título: Em tom de despedida, Fiocca aponta desembolso 66% maior no BNDES
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 11/04/2007, Política, p. A4

Em meio a um bombardeio de especulações em torno de sua saída ou permanência à frente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, presidente do banco, divulgou na tarde de ontem, em tom de despedida, números recordes de desempenho da instituição no primeiro trimestre do ano, quando foram desembolsados R$ 11,2 bilhões para projetos de investimento, valor 66% acima do mesmo período de 2006. Deste total, a indústria foi o carro-chefe, respondendo por R$ 5,8 bilhões ou 135,99% a mais que nos três primeiros meses do ano passado.

Fiocca, durante entrevista, evitou falar da troca de comando na instituição. Indagado pelos jornalistas, disse que desde a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva era normal circular rumores de mudanças de cargos no novo governo. E admitiu que sempre preferiu se manter alheio a estas especulações, ignorando o assunto. "Não sou do núcleo político do governo, sou um executivo e, neste caso, a atitude mais adequada é não fazer comentários. Se ficássemos preocupados com cargos no governo, não apresentaríamos hoje estes resultados", declarou.

Em Brasília, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, confirmou que Fiocca vai deixar a presidência do BNDES. Segundo ele, a saída não tem motivação política e já estava decidida antes mesmo de ele assumir.

O novo ministro disse não ter pressa para escolher o substituto. "O ritmo (dessa decisão) é mineiro", disse. Jorge pretende levar "dois ou três nomes" para discutir com o presidente Lula. Negou que tenha pensado no ex-ministro e ex-deputado Delfim Netto

"Não faria isso com meu amigo Delfim Netto. Ele já tem idade, está em outra etapa da vida", afirmou o ministro. Segundo ele, o próprio Delfim lhe disse, há cerca de um mês, que está cansado e não quer ocupar o cargo. Ao Valor, Delfim disse não estar interessado em ocupar cargos no governo. Jorge assumiu o ministério disposto a manter o controle do BNDES, órgão oficialmente ligado ao seu ministério, que sempre sofreu influência do Ministério da Fazenda.

Ex-economista-chefe do HSBC, conhecido nos meios oficiais como "braço direito" do ministro da Fazenda, Guido Mantega, desde os tempos do Ministério do Planejamento, no primeiro governo Lula, Fiocca assumiu o comando do BNDES há pouco mais de um ano, em março de 2006, substituindo o próprio Mantega, então galgado à Fazenda com a saída de Antônio Palocci. A expectativa de fontes próximas ao ministro é que o destino de Fiocca, 37 anos, agora será definido por Mantega, que vai garantir para seu assessor predileto no mínimo uma vaga no ministério. Isto, depois de ter lutado pela sua permanência na presidência da instituição de fomento, um dos maiores e mais cobiçados orçamentos da República, fixado em R$ 61 bilhões este ano.

Seja à frente do Tesouro, seja no próprio núcleo duro da Fazenda, Fiocca, conhecido como desenvolvimentista nos meios acadêmicos e especialista em infra-estrutura, é apontado como quadro operacional de grande iniciativa, segundo interlocutores do BNDES.

Fiocca já teve seu nome cogitado até para o Banco Central, para ocupar o lugar do ortodoxo Afonso Bevilaqua, que acabou sendo atropelado por Paulo Nogueira Batista Júnior em suas pretensões de ocupar uma vaga no Fundo Monetário Internacional (FMI). Por outro lado, como que num revide, a substituição rápida do diretor de política econômica do BC por Mário Mesquita, esfriou os planos de Mantega de colocar Fiocca no "ninho ortodoxo".

Ontem, na sua conversa com os jornalistas, Demian Fiocca fez um balanço de sua gestão no banco, mostrando as medidas que tomou para agilizar a aprovação de projetos, permitindo ao BNDES realizar grandes operações de infra-estrutura, como o financiamento de R$ 513,4 milhões para construção do estaleiro Atlântico Sul, em Suape, Pernambuco, a partir da criação da metodologia de classificação de risco para Project Finance.

Nessa modalidade a garantia é o caixa do negócio. Segundo ele, a criação de um comitê gerencial, no ano passado, possibilitou o uso de novos instrumentos de mercado de capitais para viabilizar empréstimos ao setor público, como o caso da Companhia Paulista de Trens Urbanos - CPTM, que recebeu R$ 75 milhões em Fundos de Direitos Creditórios (FDICs) e a Copasa, concessionária estadual de saneamento de Minas Gerais, controlada pelo Estado, que teve R$ 591 milhões em debêntures subscritos pelo banco para tocar projetos da área, sem impacto no superávit primário.

Ele contou ainda que conseguiu reduzir o prazo médio para aprovação de operações complexas na instituição de 10 a 12 meses para 6 a 8 meses, acelerando os desembolsos e as aprovações de projetos. "O ritmo dos desembolsos e aprovações já é excepcional", celebrou, antes de saber que sua saída da presidência do BNDES acabava de ser confirmada pelo novo ministro do Desenvolvimento.(Colaborou Raquel Ulhôa, de Brasília)